segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Os caminhos e desafios da carne caprina


Imagem Interna
A população de caprinos no país cresceu nos últimos anos, e de forma autônoma, pois foram poucos os programas de expansão do rebanho, ficando a ampliação do volume de animais quase que por conta dos criadores, que tem a seu favor apenas um leite mais valorizado que o leite bovino, e uma carne também mais cotada, porém de menor expansão, sendo que neste aspecto, em poucas ocasiões a demanda foi além de um consumo local, devido à falta de estrutura produtiva organizada.

O último Censo Agropecuário de 2006 (IBGE) mostrou que o rebanho caprino brasileiro era de cerca de 7,1 milhões de cabeças. Este rebanho passou para um total de 9,3 milhões de animais aproximadamente, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal de 2010 (IBGE), o que totaliza uma elevação de 2,2 milhões de caprinos, dado que deve ser analisado com cautela, devido às diferenças de metodologias e o potencial de imprecisão das pesquisas, mas que revelam o crescimento real do rebanho, e muito devido as suas qualidades zootécnicas de resistência extrema e rusticidade, que fazem dele um animal ideal para criadores com poucos recursos alimentares e de água, o que por si só explica o fato de que cerca de 90% do rebanho se encontre na região nordeste brasileira, servindo como base alimentar de muitas comunidades, tanto na oferta de leite, quanto de carne, sendo também um importante propulsor de negócios, ainda que sub aproveitado.

Este dado pode ser desdobrado na informação de que 87% dos estabelecimentos relacionados como criadores de cabras, uma soma de cerca de 250 mil unidades familiares e mais de um milhão de pessoas diretamente relacionadas, mantém em torno de 25 caprinos por criador, em média. Com este volume de animais, raramente se observa um grande criador de cabras na região, e por isso há uma série de implicações nesta estrutura, que afetam negativamente o processo de inclusão dos caprinos como um item relevante da economia na região do país.

O caprino tem um espaço já definido no Brasil, e mais ainda no nordeste, para o consumo de subsistência e o segmento de culinária regional, que hoje mata mais ovinos para servir como “bode” numa proporção de aproximadamente quatro ovinos para um caprino abatido, segundo pesquisas não oficiais, havendo ainda outra ponta de consumo, a culinária italiana e espanhola, que tem na perna de cabrito uma das iguarias mais procuradas, mas que no Brasil tem na perna de cordeiro o substituto de ocasião por falta de animais.

Somente esta demanda seria suficiente para anos e anos de produção nacional, mas a tendência ainda assim é de ampliação do consumo, pois a carne caprina é uma das carnes de melhor qualidade nutritiva do mundo, com índices de gordura entre 50-65% inferiores àqueles encontrados em cortes bovinos similares e conteúdo proteico semelhante, apresentando ainda 42-59 % menos gordura que a carne ovina, com teores de gordura saturada em torno de 40% inferior à de galinha (sem pele), sendo bastante reduzido quando comparado ainda com bovinos (850%); ovinos (900%) e suínos (1.100%). As qualidades da carne é que fazem com que o desafio da produção seja respondido com ações bem coordenadas.

O que se busca neste momento é dar outro salto neste patamar de funcionalidade do caprino, para que se converta o grande rebanho que o país possui hoje, o décimo maior do mundo (FAO, 2009) em um bem econômico viável para médios e grandes criadores e no interior deste desafio se encontra a disseminação e consolidação de caprinos especializados e mais eficazes para a produção de carne. A caprinocultura de corte tem a frente um grande desafio, e ao que parece, a raça Boer será uma das responsáveis por transformar um segmento da subsistência familiar em um setor econômico de fato, com maior índice de geração de emprego e renda. Sem se esquecer da raça Anglonubiana, que vive um momento de crescimento expressivo.

No estado de Pernambuco, na cidade de Parnamirim (é isso mesmo, Parnamirim/PE e não RN), o abate de caprinos e ovinos na área da seca ajudará produtores com as características citadas acima, e se o programa se tornar contínuo, será um forte indutor do crescimento do setor. Foram abatidos os primeiros 100 animais das 150 mil cabeças previstas, no Aprisco Abatedouro e Frigorífico da Cooperativa Central Agrícola do Nordeste - COCANE. A operação marcou o lançamento regional de uma ação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade compra direta, com investimentos na ordem de R$ 30 milhões, somente em Pernambuco. No Estado, vão ser beneficiados 7,5 mil agricultores familiares com rebanhos de até 50 animais, atingidos pela seca.

O produtor vai receber R$ 6,65 pelo quilo do animal vivo a ser adquirido pela CONAB. A iniciativa, pioneira na área de abrangência da SUDENE, foi conduzida pelo secretário de Agricultura e Reforma Agrária, Ranilson Ramos, juntamente com a Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, do Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome, Maya Takagi. O programa, previsto para ser executado até o final do ano, poderá ser estendido.

O secretário Ranilson Ramos lembrou que o PAA Especial Caprinos e Ovinos foi proposto à presidente Dilma Rousseff pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, durante a primeira reunião com os governadores dos Estados do Nordeste para discutir ações de convivência com a seca. A logística vai funcionar de acordo com as seguintes competências: o Governo entra com o transporte, identificação dos criadores e cadastramento dos animais, por meio da ADAGRO; o município fica responsável pela organização da estrutura dos currais e recebimento dos rebanhos, enquanto que a compra dos animais e contratação dos abatedouros, para abate e distribuição da carne às entidades sociais, vai ser de responsabilidade da CONAB. Já estão aptos a participar do programa os abatedouros de Afogados da Ingazeira/PE, Bezerros/PE, Floresta/PE e Parnamirim/PE.

Esta iniciativa se soma à produção normal dos criadores, que inclusive em outros estados abastece a indústria, mesmo que de forma limitada, mas que está crescendo de maneira gradual e constante. Um dos exemplos pode ser visto no Frigorífico Baby Bode, situado em Feira de Santana/BA que abate cerca de 2 mil animais ao mês, sendo 20% deles caprinos, adquiridos num sistema de parceria com o Projeto Riocon, um empreendimento dos diretores da Baby Bode criado para desenvolver as cadeias produtivas e assim adquirir e finalizar animais para o abate do frigorífico, por meio de projetos de integração com pequenos e médios produtores da região.

Segundo a Baby Bode, atualmente o volume de abates é maior em relação aos ovinos por uma questão de mercado, pois a produção é distribuída em praças da Região Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo. Neste contexto de ação, o que está em andamento são projetos de melhoria genética de rebanhos que estão adotando a genética Boer para produzir cabritos com mais peso, precocidade e melhor carcaça.

O diferencial da genética Boer

Introduzidos no Brasil há mais ou menos 15 anos, os caprinos Boer passam por boa fase, pois a procura pela carne caprina tem sido grande em todo país, o que qualificou e valorizou a raça. Esta é a afirmação de Marcelo Abdon, presidente da ABCBOER, entidade que congrega os esforços de divulgação da raça. Para ele, os motivos para o crescimento são claros, e se colocam nas características voltadas para produção comercial. “Os pecuaristas que trabalham com caprinos viram que para produzir carne é necessário usar reprodutores da raça Boer, por ser o único caprino no mundo especializado para corte, os animais atingem o peso de abate muito rápido, com excelente carcaça, o que fez com que criadores que usavam outras raças passassem a usar estes reprodutores”, explica Marcelo, acrescentando que a ABCBOER tem feito o possível para divulgar as características destes caprinos, que são animais relativamente novos no país, mas que tem se expandido e hoje são criados em todas as regiões do Brasil, com domínio cada vez mais aperfeiçoado.

Um dos exemplos da expansão da raça no país, e mais ainda na região nordeste, ocorreu na região de Juazeiro/BA, no Vale do São Francisco, onde a ABCBOER realizou, no final de abril, a 12ª Exposição Nacional da Raça, localidade no qual estão sendo formados vários projetos para produzir carne de caprinos, alguns já com mais de 5 mil animais, e que aos poucos se expandem e ganham consistência. A carne caprina, para se tornar a realidade que os produtores desejam, ainda carece de grandes investimentos e uma política setorial mais efetiva, que seja capaz de integrar esforços de criadores, frigoríficos e sistemas de distribuição, para fazer com a produção de carne caprina ocupe seu lugar na economia do agronegócio.

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