A criação de ovinos e caprinos no sertão do Ceará é uma opção  viável e rentável para os pequenos produtores rurais e para as unidades  de produção familiar. Neste Município da região Centro-Sul, a atividade  vem crescendo nos últimos cinco anos graças ao associativismo e aos  recursos liberados pelo programa Desenvolvimento Regional Sustentável  (DRS), do Banco do Brasil.    
Um grupo de 200 criadores da Associação dos Produtores de Ovinos e  caprinos de Acopiara (Apocace) utiliza manejo correto, sob orientação de  técnicos do Serviço Nacional Aprendizagem Rural (Senar), Sebrae,  Ematerce, Secretaria de Agricultura do Município e Instituto Elo Amigo. O  resultado das práticas modernas e adequadas já é sentido pelos  criadores. A renda familiar aumentou. Criar ovinos e caprinos não impede  a exploração de outras atividades agrícolas.
 
Nos últimos anos, a Apocace orienta os criadores a cuidar da sanidade  do rebanho, empregar técnicas de manejo alimentar e reprodutivo que  possibilitem melhorar a qualidade dos animais e ampliar o plantel, de  maneira uniforme e saudável. "Com as técnicas adequadas, reduzimos a  mortandade que era de 50% e aumentamos o número do rebanho, que também  passou a ter ganho de peso", disse o presidente da entidade, Airton  Alves Gurgel.
 
Vantagens
 
A finalidade da Apocace é conscientizar o agricultor sobre as  vantagens da criação de ovinos e caprinos, animais rústicos que se  adaptam com facilidade ao clima do sertão do Ceará. Em relação aos  bovinos, animais de maior porte, Gurgel compara: "Um boi come por três  ovinos e exige mais capital por parte dos criadores para aquisição das  matrizes e bezerros, e mais tempo para atingir o peso ideal de  comercialização".
 
O mercado é favorável e a oferta atual de ovinos sequer atende a  demanda regional. "Com sete meses, os ovinos chegam a 35 quilos e até um  ano é o tempo ideal para comercialização, porque a carne está macia",  frisou Gurgel. "Todo mês o criador tem renda". Há cinco anos, Gurgel  trocou a bovinocultura pela ovinocultura e mantém a criação em uma  fazenda no Sítio Serra, zona rural de Acopiara. Outra informação  essencial para o sucesso da atividade está na escolha certa dos animais.  Gurgel disse que a maioria dos produtores prefere criar as raças de  ovinos, Santa Inês e Somalis, e de caprinos, Boer, pelas suas  características de precocidade e rusticidade. "Fazemos o cruzamento das  raças que resulta em borregos resistentes e com pouco tempo de pasto  para o abate", afirma Gurgel. "Estes animais apresentam características  adaptadas ao clima do sertão e podem ser abatidos com 200 dias".
 
Antes da capacitação dos criadores associados, os animais eram  criados extensivamente e sem aplicação de nenhuma técnica, mas somente  seguindo o costume que vem de décadas passadas. Sem alimentação adequada  e cuidados sanitários, a taxa de mortalidade dos cordeiros era de 50%  em média, mas hoje caiu para apenas 3%. "Isso foi um avanço", observa o  produtor José Luciremar Oliveira. Ele cria 120 ovinos na fazenda, com  boas instalações, no Sítio Escuro, neste Município.
 
Segundo os criadores, as matrizes davam apenas uma cria por ano.  Agora em média nascem dois borregos e são duas parições por ano. O  manejo sanitário implica no uso correto de imunização e de vermifugação  periódica de quatro em quatro meses. Os criadores aprenderam a fazer  pequenas cirurgias, corte do umbigo e castração, visando prevenir  doenças e infecções nas criações.
 
Para o crescimento adequado dos animais, os criadores passaram a se  preocupar com a alimentação. O segundo semestre, período de seca, é o  mais crítico, porque há escassez de pastagem nativa. A saída é fazer  feno e silagem. O volumoso (capim) é dado aos ovinos e caprinos  livremente, mas os animais recebem ração (concentrado) à base de milho,  soja e cana-de-açúcar. Para cada animal, são fornecidos, por dia, 200  gramas de ração. Há também suplemento mineral com 20% de sal branco  (comum).
 
O criador Gurgel preocupa-se com o manejo reprodutivo. "É preciso  planejar o período certo de cobertura e de criação", disse. Aos sete  meses, as ovelhas e cabras entram no cio pela primeira vez, mas o melhor  é esperar até que alcance pelo menos 12 meses para adquirir porte  apropriado para a reprodução.
 
O período de gestação demora seis meses, mas três meses após a cria  as matrizes já estão prontas para serem novamente cobertas. O produtor  José Oliveira, do Sítio Escuro, costuma apartar os borregos aos cinco  meses. "Estamos tendo duas crias por ano de dois animais cada, depois  das orientações técnicas que recebemos e colocamos em prática", disse.  "Isso significa mais ganho para o criador", complementou.
 
Os associados recebem capacitação sobre cooperativismo, noções de  administração da unidade produtiva, agroecologia, manejo sanitário,  alimentar e reprodutivo. "Só recebem financiamento quem faz a  capacitação", observa Gurgel. "O importante é que os produtores conheçam  as técnicas e características da ovinocultura para investir na  atividade e completar o elo da cadeia produtiva, onde todos os atores  ganham".
 
O agricultor Valdimiro Dantas do Vale é um dos entusiastas da  atividade. Ele optou por criar caprinos. Considera a iniciativa uma  oportunidade para ampliar o rebanho, de uma forma saudável e produtiva.
 
Autor: Honório Barbosa. Fonte: Diário do Nordeste