quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

REVOLUÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA

Por Kátia Abreu
O bem maior que a revolução agrícola brasileira realizou não foi na economia, mas na condição social do brasileiro

Neste começo de 2014, uma pequena pausa nas vertigens do cotidiano me fez lembrar que está fazendo agora 20 anos que comecei minha vida sindical, lá em Gurupi, no interior do Tocantins. Foi impossível não me entregar às recordações e conectá-las com a vida presente, a minha vida, a agricultura e o Brasil.
Quanta vida se passou entre um tempo e outro! Como as coisas mudaram e quantos sonhos se tornaram realidade.
Em 1994, no começo atribulado da minha vida, decidi que, mais do que ser uma boa e bem-sucedida produtora rural, devia também doar uma boa parte de mim ao serviço da comunidade rural brasileira. Não alimentava nenhuma ambição política nem sonhava em sair dos humildes limites do meu sindicato rural e da minha cidade.
Por uma circunstância do destino, há 20 anos eu comecei uma nova vida que segue até os dias atuais. Também o Brasil, nesse mesmo período, tornou-se um novo país, numa trajetória que prossegue até hoje, porque deixou de lado os preconceitos históricos e a compreensão equivocada dos processos econômicos.
Na minha leitura desses 20 anos, pude perceber com mais clareza os efeitos da revolução agrícola brasileira sobre as novas configurações de nossa sociedade. Fala-se sempre, e eu também, dos avanços da produção e da produtividade do setor rural, da expansão de nossas exportações do agronegócio, da nossa participação no PIB e no emprego. Mas agricultura no Brasil foi principalmente progresso social.
O bem maior que a revolução agrícola brasileira realizou não foi na economia, por maior que tenha sido. Foi na condição social dos brasileiros.
Nenhum país desenvolvido chegou a essa situação antes que a agricultura nacional fosse capaz de alimentar a sua população a pre- ços baixos. E os numerosos países ainda pobres são aqueles em que a produção rural é insuficiente ou improdutiva.
O Brasil é um dos únicos casos em que um país ainda relativamente não desenvolvido foi capaz de erguer uma agropecuária altamente desenvolvida, abundante e barata, capaz de alimentar toda a população e gerar grandes excedentes.
Entre 1950 e 1979, os preços dos alimentos no Brasil cresceram sempre em torno de 10% acima das demais mercadorias. É fácil imaginar o efeito devastador de preços tão elevados na vida das famílias de baixa renda, em cujo orçamento a alimentação consome a maior parte. Isso significava uma enorme limitação ao mercado interno. Quando não resultava, por efeito da insuficiência alimentar, em mais mortalidade infantil, doenças crônicas e morte precoce da população adulta.
Entre o final dos anos 1970 e 2005, o custo no varejo de uma ampla cesta de alimentos, na cidade de São Paulo, caiu, em média, mais de 5% ao ano. Uma queda dessa dimensão, e por tanto tempo, só foi possível graças ao impressionante aumento da produtividade agrícola. A redução no custo da alimentação permitiu que todos as classes sociais se alimentassem adequadamente e essa é uma das causas da melhoria da saúde da população.
O outro efeito foi liberar o poder de compra das classes de baixa renda para outros bens e serviços, proporcionando bem-estar e criando mercado doméstico para os demais setores da economia.
Tudo isso somado, torna-se imperativo reconhecer que a revolução agrícola brasileira está na linha de frente dos fatores que diminuíram a desigualdade entre nós e promoveram a ascensão de grandes contingentes de brasileiros à classe média.
Olhando hoje para trás, cresce em mim a certeza de que o Brasil tem os meios e a força para crescer e fazer justiça a todos os seus cidadãos. E cresce também a certeza de que a nossa luta pela defesa da agricultura e dos agricultores brasileiros é uma boa luta. Uma luta que tem tudo para dar sentido a uma vida.

Programa Travessia Seca será ampliado para mais três estados


Lançado em outubro do ano passado no Tocantins, o Programa Sudeste Empreendedor - Travessia Seca será estendido para Minas Gerais, Espírito Santo e Goiás nos próximos meses. O assunto foi debatido em uma reunião com os representantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) dos três estados, nesta terça-feira (18/2), na sede do Sistema CNA/SENAR, em Brasília.
“No Tocantins temos uma área de seca e conseguimos recursos, em parceria com o Sebrae, para realizar o programa. Agora queremos estender isso para os nossos vizinhos que também sofrem com a falta de chuvas, como o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, o Espírito Santo e Goiás. Nós apostamos nesse programa e contamos com a experiência de vocês para mudar esse jogo”, disse a presidente da Confederação da Pecuária e Agricultura do Brasil (CNA), Kátia Abreu, aos participantes do encontro.
Assim como já acontece na Bahia – que desenvolve o Programa Viver Bem no Semiárido –, e na Paraíba, onde o Programa Sertão Empreendedor: Um Novo Tempo para o Semiárido foi iniciado, o Travessia Seca atua na região Sudeste do Tocantins. Os três programas fazem parte das ações promovidas pelo Sistema CNA/SENAR para criar estratégias tecnológicas e assistência técnica para amenizar os efeitos das secas prolongadas que acontecem nessas regiões.
“O objetivo é o mesmo, apenas assimilando as diferenças regionais. No Tocantins chove mais, mas o solo é raso e seca rápido, enquanto na Paraíba a terra é melhor, mas o índice pluviométrico é baixo”, explica o coordenador institucional do programa Sertão Empreendedor, Mário Borba. Segundo ele, as iniciativas desenvolvidas na Bahia já estão mostrando resultados e o projeto piloto do Sertão Empreendedor, que acontece em seis municípios da Paraíba (Cajazeiras, Piancó, Catolé do Rocha, Campina Grande, Juazeirinho e Santa Luzia), começará a atender as propriedades rurais selecionadas a partir de março.
A interação com o Sebrae Nacional e a matriz de ações mínimas por município participante foram outros temas debatidos na reunião. Para o secretário executivo do SENAR, Daniel Carrara, a parceria está permitindo o avanço do Sertão Empreendedor, mas a construção dos projetos em nível estadual – entre os representantes das duas entidades – é fundamental para o crescimento do programa que pretende atingir 25% dos municípios do semiárido brasileiro (300 cidades).
“A interação com o Sebrae Nacional está muito bem fundamentada. Agora, essa ponte precisa ser feita nos estados para seguirmos avançando. Temos que trabalhar em questões estratégicas, como água e alimento, mas também em alternativas de renda e na mudança de comportamento dos produtores. É preciso tomar a atitude antes de ter o problema”, salienta.
Sudeste Empreendedor - Travessia Seca
O Programa Sudeste Empreendedor – Travessia Seca foi criado para atender, inicialmente, dois mil produtores de 27 municípios da região Sudeste do Tocantins. Promovido em parceria com o Sebrae e a Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins (FAET), vai estimular o espírito empreendedor e elevar a qualidade de vida da população da região, constantemente afetada por secas e estiagens prolongadas. O programa vai promover a competitividade e sustentabilidade dos empreendimentos rurais desta região por meio do fomento à inovação, ao empreendedorismo e a difusão das tecnologias sociais, de produção, gestão e boas práticas de convivência com a seca.
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