segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O verde estimula o crescimento

Artigos

Por Achim Steiner* e Pavan Sukhdev
A reunião de cúpula do G-20, em Toronto, oferece oportunidade para um olhar crítico sobre como os investimentos verdes ajudam na recuperação econômica e na criação de empregos em muitos países, enquanto geram também ganhos ambientais, inclusive em mudanças climáticas.

A China, que direcionou cerca de um terço de seu pacote de estímulo ao setor ambiental, viu seu PIB aumentar nitidamente, e os empregos relativos a fontes renováveis de energia, como a solar, chegaram a mais de 1,5 milhão, com cerca de 300 mil trabalhadores contratados apenas em 2009.

A taxa de desemprego na Espanha é alta, mas seria sem dúvida maior sem a política de fomentar energia eólica e outros setores de tecnologia limpa, nos quais meio milhão de empregos foram criados.

A Coreia do Sul investiu bem mais do que 80% de seu pacote em áreas que vão de transporte sustentável e veículos com baixa emissão de gás carbônico até construções eficientes em energia. Isso, agora, foi reforçado com um plano de crescimento verde, com duração de cinco anos, cujo alvo é o corte da dependência em carbono e, ao mesmo tempo, a produção de 1,8 milhão de empregos.

O Ato Nacional de Garantia de Emprego Rural na Índia auxilia a reparar e restaurar a infraestrutura rural, crítica para a subsistência dos pobres. Ela inclui redes de armazenamento de água em algumas das partes mais miseráveis do país, como Andhra Pradesh. Com o ato, se entrega maior segurança relativa à água, aumento de 25% na remuneração de trabalhadores da agricultura e mais de 3,5 bilhões de dias de trabalho, com o programa alcançando 30 milhões de famílias por ano, em média.

A cidade de São Paulo, que representa cerca de um terço da economia do Brasil, está embarcando em uma estratégia de economia que abrange de transportes a edifícios mais verdes.

Enquanto a transição para uma economia com baixa emissão de carbono e uso eficiente de recursos está ganhando força globalmente, alguns afirmam que é apenas uma reembalagem brilhante da agenda de desenvolvimento sustentável, ou pior, um enredo para limitar em vez de liberar o crescimento em países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. Em todos os casos, é uma agenda favorecida por países desenvolvidos ou em rápido desenvolvimento, que as economias mais pobres não podem pagar.

Nada disso poderia estar mais longe da verdade. Antes do G-20, reunimos alguns estudos de casos-chave parte de um grande relatório sobre economia verde a ser publicado mais além.

No Quênia, descobrimos que uma nova política de energia verde, que inclui tarifa de alimentação e acordo de compra de energia por 15 anos, está catalisando um alvo inicial de 500 megawatts de energia geotermal, eólica e biocombustível, e um aumento de mais de 40% na capacidade instalada no país.

Em Uganda, as políticas para promover a agricultura orgânica geraram 200 mil fazendeiros certificados e um forte aumento nas exportações, de menos de US$ 4 milhões, em 2003, para aproximadamente US$ 23 milhões em 2010.

Na Tailândia, os mecanismos de mercado, apoiados por alvos ambiciosos, ajudam o país a criar empresas que são líderes regionais em reciclagem de lixo, incluindo operações no Laos e na Malásia, enquanto geram centenas de empregos.

Nos últimos dois anos, a economia verde foi da teoria à prática. É agora um dos dois maiores temas, enquanto os governos se preparam para a conferência Rio+20 no Brasil, em 2012. A lógica inerente oferece, talvez pela primeira vez, um paradigma de crescimento sustentável que é adequado tanto para países em desenvolvimento quanto para países desenvolvidos.

Novas ideias e políticas, especialmente quando desafiam o status quo, sempre terão seus críticos. Mas, como demonstra uma série de estudos de caso, muitas economias em desenvolvimento estão tomando decisões por conta própria.

A economia verde não é um luxo, mas um claro imperativo em um planeta de seis bilhões de pessoas e nove bilhões até 2050. A crise financeira e econômica deu-lhe asas. O quão longe ela voará, dependerá de políticas inteligentes por parte de governos em países desenvolvidos e em desenvolvimento, e de políticas prospectivas da parte de bancos regionais de desenvolvimento, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, e das finanças de desenvolvimento bilateral para os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

A reunião de cúpula do G-20 tem a oportunidade, se não a responsabilidade, de permitir essa transição por tomar um papel de liderança no apoio das aspirações das economias em desenvolvimento. Os líderes devem reafirmar seu compromisso para atrelar a sustentabilidade na recuperação econômica global, e seu reconhecimento do poder da economia verde em criar um caminho de desenvolvimento fundamentalmente diferente para todos os países.

* ACHIM STEINER é subsecretário geral e diretor executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas.
** PAVAN SUKHDEV é conselheiro especial da Iniciativa para Economia Verde do Programa Ambiental das Nações Unidas.

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