terça-feira, 27 de abril de 2010

Viva Maringhella


Por * Por Denis Lerrer Rosenfield
Não se preocupem, não enlouqueci! Para quem quiser compreender o “abril vermelho” do MST e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), é altamente recomendável a leitura da “Revista Sem Terra”, de fevereiro-março deste ano. Na capa, uma manchete para homenagear Marighella enquanto herói nacional, além de elogios à revolução socialista de Chávez e dos irmãos Castro, com críticas veementes ao agronegócio e ao “latifúndio da mídia”.
A matéria central deste número versa sobre o sentido de ser, hoje, “marighellista”.
Para os mais jovens, convém lembrar que Marighella foi um comunista que lutou para implementar o comunismo no Brasil, tendo como modelo a ex-União Soviética. Por discordar da linha do Partido Comunista Brasileiro, contrário à luta armada, fundou a sua própria organização, a ALN (Ação Libertadora Nacional), partindo para o que se denominava, então, de guerrilha urbana. Era um stalinista e não um partidário da democracia, como os seus partidários procuram apresentálo atualmente. Foi morto pelos militares em 1969, tendo o seu projeto sido, desta maneira, abortado.
Ora, este indivíduo, com tal curriculum, que mais se assemelha a uma folha corrida, é apresentado pelos invasores do “abril vermelho” como um partidário da democracia. “Marighella não vive no retrato na parede, nem nas lembranças que guardamos. Vive nos ensinamentos e atitudes que conformaram nossa herança.” O problema reside precisamente aqui, nesta herança que o MST e a CPT procuram resgatar como “nossa”, a saber, a herança comunista, socialista, deles, da qual não pretendem abdicar. Pelo contrário, procuram impô-la, mudando o sentido mesmo das palavras. Os nomes mudaram, porém os significados permanecem.
Agora, quando se ouve falar de “solidariedade”, “justiça”, palavras essas proclamadas pelos ditos movimentos sociais, somos como que compelidos pela simpatia, quando, na verdade, estamos sendo, literalmente, enganados.
“Carlos Marighella é um herói.” Ou ainda: “Importa é que sem mesmo entender os motivos, intuímos que necessitamos do exemplo de nossos heróis.
Invocá-los em nossa mística para que possamos nos sentir sua continuidade, tomar emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem.” Logo, deveria ser comemorado como um dos nomes mais destacados de nosso país, devendo servir de exemplo para os mais jovens.
Na perspectiva do PNDH-3, o esquerdista Plano Nacional dos Direitos Humanos, deveria constar dos livros didáticos, que formariam a cabeça dos nossos jovens. A linguagem política é a mesma. Como ele apregoa o banimento dos símbolos religiosos, eles seriam substituídos por esses novos “símbolos políticos”. Segundo a nova doutrina, estados como São Paulo e Santa Catarina deveriam mudar de nome, por não corresponderem à nova concepção.
Talvez pudessem ser chamados estados Marighella e Lamarca. Os heróis nacionais seriam, então, homenageados adequadamente! Pode parecer brincadeira, mas infelizmente não o é.
O novo modelo é a Venezuela de Chávez, além da ilha prisão dos irmãos Castro. Tão paradisíaca que as pessoas procuram dela fugir. Mais vale o preço da liberdade que a realização do socialismo. Mais do que isto, procuram estabelecer uma organização supranacional capaz de levar a cabo esse objetivo. Um dos seus projetos é o da Alba, a aliança chavista. “Diante disto [das tarefas da revolução latinoamericana], as políticas da Alba têm como alternativa organizativa fortalecer as bases dos movimentos sociais do continente, fundamentando-se numa política de soberania alimentar, na luta pela reforma agrária, na produção de alimento saudável e agroecológico — ensinada em escolas específicas no Brasil, em Cuba e na Venezuela.” Notese o uso de termos politicamente corretos, como “produção de alimento saudável e agroecológico”, tendo como função velar o projeto “bolivariano”, “socialista”, que é ensinado nas escolas do MST pelo país afora. Eis o destino dos recursos dos contribuintes quando o governo brasileiro financia essas escolas, que são verdadeiras escolas de quadros militantes.
Torna-se, portanto, vital para a consecução deste projeto político controlar as mentes, formar a opinião pública.
Eis por que em outro artigo, é apregoado o controle “social” dos meios de comunicação, o controle “emessista”, “bolivariano”, “socialista”, dos meios de comunicação, para dizer as coisas claramente. Em um artigo de elogio à 1aConferência Nacional de Comunicações (Confecom), onde pontificaram os mesmos ditos movimentos sociais, que se arvoram em verdadeiros delegados da “sociedade civil”, condenação explícita foi feita às empresas de mídia e aos jornais. Para eles, a luta contra o agronegócio, contra a agricultura de mercado, é a mesma que é empreendida contras as empresas de mídia.
“O dilema da mídia é o mesmo dilema que há em outros setores. Então, não há pacto com latifundiário, pois ele nunca vai querer perder o latifúndio, nem de terra, nem de mídia. Porque são empresas de comunicação e, por trás, grupos de empresários e um modelo econômico.” Em bom português, trata-se de suprimir a economia de mercado, o direito de propriedade e as liberdades próprias de uma sociedade democrática, em particular a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral.
Em editorial, é afirmado que o combate a ser travado é contra os “polos dinâmicos da acumulação capitalista”, tendo como alvo, no campo, os seus setores mais “modernos”, como os “monocultivos da cana-deaçúcar, eucaliptos e soja”. A questão não é o latifúndio, não é a reforma agrária, mas o projeto bolivariano-socialistacomunista. O Brasil está sendo presenteado, neste mês, com mais um “abril vermelho”, numa crônica de invasões anunciadas. Crônica de uma impunidade crônica, como se a sociedade brasileira tivesse de conviver com essa forma de violência política. Podemos, assim, compreender melhor o seu significado.
* Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS.  Artigo publicado no Jornal O Globo.

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