quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Rumos e perspectivas para a agricultura

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Por Roberto Simões
Nas últimas três décadas, deixamos de ser importadores de alimentos e nos tornamos grandes exportadores. Muito graças ao trabalho brasileiro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, que o produtor soube aproveitar gerando aumento da produção, sem aumento da área utilizada. A agricultura mineira hoje é forte e consolidada e permanecerá assim, pois contamos com uma enorme variedade de produtos que continuarão garantindo a posição de destaque de Minas Gerais na agricultura brasileira e mundial.
Nosso grande desafio para o futuro será suprir uma imensa demanda por alimentos ocasionada pelo aumento populacional. Atualmente, o mundo já conta com quase um bilhão de famintos.
Em 2032, a Terra chegará a 8,3 bilhões de habitantes, 236 milhões de brasileiros. Precisaremos produzir muito mais. Para se ter uma ideia em um prazo bem menor, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), até 2020 a demanda mundial por alimentos crescerá 20% e o Brasil atenderá 40% dessa demanda.
Somos um dos poucos países do mundo com condições de crescer exponencialmente sua produção. Isso muito pouco se deve à disponibilidade de novas áreas que ainda temos, sendo que as tecnologias é que têm sido e serão fundamentais para aumentarmos a produtividade.
Será preciso investir em conhecimento, fortalecendo os centros de pesquisa e as universidades e garantindo a transferência dos resultados alcançados, das prateleiras acadêmicas às empresas e ao campo. O atual governo fala em retomar a extensão rural, o que seria muito importante; fortalecer pesquisa, extensão e assistência técnica continuada aos produtores. Será necessário investir também na capacitação de mão de obra para operar o maquinário em processos cada vez mais automatizados e de alta tecnologia.
A marcha tem que seguir na direção que temos trilhado, com certificação, demarcação de origem e produtos cada vez mais acabados. Entretanto, isso não será nunca a totalidade ou mesmo a maior parte da nossa oferta, até porque seria impossível processar volumes tão grandes de produção.
Precisamos apagar de vez a ideia de que é uma vergonha exportarmos commodities, que hoje agregam tanta tecnologia e pesquisa que chegam a superar muitos setores tidos como “modernos”. Além disso, enquanto algumas áreas produzem a partir de 90% de produtos importados, a agricultura funciona exatamente no inverso, importando menos de 10% do que utiliza para sua produção. É uma contribuição enorme para a balança comercial do país.
Para esses próximos 20 anos, a agricultura de alta precisão, de baixo carbono e a irrigação serão essenciais para o aumento da produtividade com menor impacto no meio ambiente. Outras técnicas importantes para essa agricultura sustentável serão a do plantio direto, que já tem se espalhado em todo o Estado, e a integração lavoura/pecuária/florestas. São iniciativas desenvolvidas aqui, muito bem vindas e que, certamente, serão muito vitoriosas.
De nada adiantará, entretanto, produzirmos mais e melhor se não houver como transportar, armazenar ou exportar essa enorme produção. Será preciso suplantar gargalos diversos, especialmente do ponto de vista da infraestrutura.
Isso inclui investimentos em armazéns, estradas, ferrovias, hidrovias e portos, além de maior utilização de rotas de exportação pelo Norte do país, desafogando os portos de Santos e Paranaguá. Para acompanhar essa evolução necessária, será preciso também que se estabeleça uma política agrícola anticíclica, desenvolvida com metas e objetivos que retirem o caráter de sazonalidade da agricultura. Será fundamental uma política efetiva sobre questões de crédito, estoques reguladores, preços mínimos e seguros, além de ajustes do ponto de vista da tributação e de legislações exageradas, que muitas vezes restringem oportunidades de desenvolvimento.
Em linhas gerais, o que a agricultura e todos os demais setores econômicos de Minas Gerais precisam para chegarem fortes a 2032 é de uma mentalidade desenvolvimentista mais agressiva e de uma política prática com foco no resultado, visando retomarmos o lugar de liderança na economia brasileira.
Precisamos impor nossa posição no cenário nacional mais uma vez, rompendo definitivamente com a ideia de que mineiro trabalha quieto. Vocação existe,tecnologia e gente boa de serviço também temos. Falta vontade política e estratégia. Se quisermos uma agricultura de primeiro mundo para daqui 20 anos, faremos.
*Presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (FAEMG) e Vice-Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Artigo publicado na edição comemorativa dos 80 anos do Diário do Comércio

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