quarta-feira, 6 de junho de 2012

A China é logo ali

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Por Kátia Abreu*
A China impressiona. E a primeira boa impressão que tive, em recente visita àquela potência econômica, foi a de que os chineses são eficientes, objetivos, profissionais, aceitam pautas desafiadoras e estão de portas abertas para o Brasil. Tudo isso, mas não só isso: lá, crescer é uma decisão política.
Há uma impetuosidade na busca do crescimento e do progresso. Por onde se anda, é visível que o país está mudando a economia, combatendo a pobreza, transferindo a população do campo para cidades planejadas, distribuindo a riqueza, usando mão-de-obra própria e, ao mesmo tempo, importando inovação e tecnologia de qualquer lugar do mundo. O resultado é surpreendente.
O que se vê, além da ousadia dos seus dirigentes, é o senso de urgência do país, mas os bens coletivos – estradas, ferrovias, portos, aeroportos, estações – são monumentos à modernidade e projetados para o futuro.
Da “velha China” ainda resta o modelo híbrido de socialismo político e capitalismo econômico que, à primeira vista, acaba passando a ideia de que é uma virtude a combinação de autoritarismo e prosperidade. Não é. O país ainda paga um alto preço humano pela ausência de liberdade e pela dificuldade do regime em lidar com críticas, com a imprensa livre e com a organização da sociedade civil.
A economia chinesa está baseada no centralismo político com planejamento estatal, por isso o protecionismo é uma constante. Se a nossa indústria sofre, o setor agropecuário brasileiro não enfrenta grandes barreiras, pois temos escala, tecnologia e competitividade. Nossa agenda com os chineses pode e deve ser agressiva. Eles precisam – e muito! – do alimento produzido no Brasil, basta ver que mais de 30% das exportações do agro para lá são dirigidas.
Paz e competição formam o lema chinês. Por isso é notória a ligação entre a diplomacia política e a diplomacia comercial. Os países que mais fazem negócios com a China são os que estão dispostos a viver a vida em mandarim. O que vimos em todos os momentos, em nossa viagem, foi uma forte presença de empresas européias e norte-americanas no país, embaixadas com centenas de funcionários, mostrando que não importa a distância para ser “amigo íntimo” da China.
A imagem do Brasil – “o país do café” - e seus produtos, especialmente os agrícolas, é boa, mas claramente insuficiente. A pauta focada em poucos produtos e sem desdobramentos internos na direção da criação de marcas e produtos sino-brasileiros limita - e até esconde - nossa presença.  A compreensão recíproca das limitações é notória, ou seja, a China dá grande importância ao desenvolvimento das relações com o Brasil, mas percebe-se que não há relação estratégica sólida. Por enquanto, o “negócio da China” tem sido bom apenas para os chineses – e para algumas poucas empresas.
É preciso que o Brasil fortaleça o intercâmbio e a presença, para aumentar a confiança e promover a cooperação. Aumentar os canais de comunicação e os mecanismos de consulta, buscando sempre o diálogo direto, é a melhor forma de conhecer os chineses. A CNA entendeu e aceitou este desafio. Até o final deste ano, estaremos com o nosso escritório em Pequim, representando a agropecuária, que reúne as melhores vantagens competitivas para conquistar o maior cliente do mundo. A China é logo ali.
*KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD-TO) e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), escreve aos sábados, a cada 14 dias, para o Caderno Mercado do Jornal Folha de S. Paulo
Leia o artigo completo em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/45087-a-china-e-logo-ali.shtml
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