sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Ovinocultores do sul e sudeste do país melhoram a renda


A criação de ovelhas no Brasil sempre teve duas finalidades básicas, a produção de carne e de lã. Nos últimos quatro anos, no entanto, a exploração de leite para fabricação de queijos finos e iogurtes virou negócio promissor, principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, onde grandes criadores chegam a tirar 400 litros de leite por dia em escala industrial e famílias envolvidas na atividade conseguem litragens médias de 20 a 100 litros.
Foram os gaúchos os introdutores de ovinos com aptidão leiteira no Brasil, em 1992, quando a Cabanha Dedo Verde, hoje referência na difusão de qualidade e cuja sede fica no município de Viamão, trouxe da França a raça lacaune. Apesar do pioneirismo do Rio Grande do Sul, Santa Catarina vem se destacando no setor, ao implementar um amplo programa de organização da cadeia produtiva e de incentivo à criação, com assistência da Empresa de Pesquisa e Extensão Rural (Epagri), orientação do Sebrae, verba do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) e apoio do estado e municípios.
A ovinocultura brasileira ganhou impulso nos últimos 12 meses com a fundação da Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos Leiteiros, sediada em Chapecó-SC, e com a introdução no país de animais da raça east-friesian, de tripla aptidão e grande produção leiteira – originária da Alemanha, é considerada por especialistas uma das que apresentam maiores produções no mundo, podendo alcançar até quatro litros por dia.
Em 2005, nenhuma fazenda do oeste catarinense tirava leite de ovelhas. Hoje, pelo menos 40 propriedades da região aderiram à produção, consorciando-a com atividades tradicionais como a pecuária bovina. Presidida por Érico Tormen, um dos primeiros a acreditar no potencial da ovinocultura de leite no estado, a associação já registra 20 sócios. A fazenda de Érico produz 180 litros por dia. Segundo ele, a proposta da entidade é organizar os pecuaristas para o cenário de mudanças. “A produção de leite de ovelha tornou-se uma atividade significativa, e a associação permitirá a união e o fortalecimento do ovinocultor. Eu lembro que somente em Santa Catarina existem mais de 3 mil ovelhas leiteiras. Além disso, o consumo vai subir movido pela melhoria de renda no país.” Érico acredita na disseminação da ovinocultura leiteira, especialmente em São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro, estados com grande potencial de consumo de queijos finos, iogurtes e derivados.
No total, segundo Érico, o Brasil produz hoje perto de 800 mil litros de leite por ano. “É pouco”, ele reconhece. Países europeus, como a Itália e a França, asiáticos, caso da China, e do Oriente Médio, como a Síria, nos quais a ordenha é praticada há pelo menos 2 mil anos, deixam no balde centenas de milhões de litros. A produção mundial de leite de ovelhas está próxima dos 8 milhões de litros ao ano. Para comparação, apenas no Brasil se produzem 26 bilhões de litros de leite de vaca anualmente.
Paulo Gregianin, ovinocultor de 39 anos em Guatambu, cidade próxima a Chapecó, é um dos beneficiados pelo Pronaf. Ele era funcionário de outra fazenda e arrendou terra para montar o próprio negócio em 2007. “Foi necessário muito esforço. Não tinha oferta de animais de leite, e recursos para a atividade praticamente não existiam.” Paulo lembra que o Banco do Brasil à época não considerava a ovinocultura de leite uma exploração comercial. Duraram nove meses as tratativas até o dinheiro chegar.
A Cabanha Aliança, de Paulo, é gerida 100% pela família, a esposa, Vera, e duas filhas, Karine e Maiquele. A produção é de 120 litros de leite por dia e se trabalha com as raças lacaune e east-friesian. Em 2009, Paulo começou a entregar 20 litros por dia ao laticínio. Agora, espera chegar a 150 litros em 2011, com 100 fêmeas em lactação, tornando o leite autossuficiente e complementando o caixa com a venda de cordeiros. A Aliança possui dez hectares de área e lotação de 25 matrizes por hectare – a média brasileira é de dez matrizes por hectare.
Fonte: Jornal de Uberaba

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