quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pra que discutir com Madame?

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Por Katia Abreu
É urgente decifrar o enigma do semiárido brasileiro, área coberta pela caatinga, que só existe no país
                                                                                                                                                                                                         
O refrão do samba de Haroldo Barbosa e Janet Almeida – especialmente, se cantado por João Gilberto, para mim, extraordinário – resume a premissa essencial das medidas econômicas baixadas para enfrentar a seca calamitosa que, nos últimos dois anos, castigou a agricultura do semiárido nordestino: “Pra que discutir com Madame?”
No nosso caso, indagaria “pra que discutir com a Natureza?”, senhora muito caprichosa e que deve ser seduzida com imaginação e precisão. Jamais com improvisação ou prepotência.
Este raciocínio não representa conformismo. Pelo contrário. É urgente decifrarmos o enigma do semiárido brasileiro, área coberta pela caatinga, bioma que só existe no Brasil.
Diante da inclemência da seca, pouco se divulga que o semiárido brasileiro é a região que registra o maior volume de chuva se comparada a outras áreas semelhantes do planeta, que enfrentam as estiagens sem trauma e produzindo de forma mais regular.
Pela lógica dos contrastes, que tanto excita a curiosidade humana, se em regiões similares outros povos encontraram formas de conviver com a sazonalidade meteorológica que nos aflige, por que estamos condenados ao vexame de secas sucedidas por graves crises no nosso Nordeste?
A resposta, certamente, virá de uma conjunção multidisciplinar. Temos agrônomos, economistas, meteorologistas, geógrafos e tantas mais categorias de especialistas, todas capazes de intervir na realidade. E temos a Embrapa Semiárido, com certeza capaz de liderar este time e indicar formas eficazes de retirarmos, definitivamente, o semiárido brasileiro do índex das regiões mais indecifráveis do mundo.
Com o novo Plano Agrícola e Pecuário (PAP) do Semiárido, este governo avançou no rumo de outros países que venceram desafios climáticos semelhantes. Já era hora de ir além dos lamentos por conta dos períodos de estiagem que fragilizam 22,5 milhões de nordestinos, distribuídos em área equivalente a 10% do território nacional, que abrange 1.135 municípios dos nove estados da região.
Ainda assim, não há como não acudir o sertanejo judiado pela estiagem com medidas de emergência. Por isto, nada mais justo do que a suspensão da execução de dívidas e a fixação de novos prazos para o pagamento de compromissos assumidos e não cumpridos, em função da inclemência da natureza.
Desta forma, a MP 610 aprovada na última quinta-feira, pelo Senado, complementa o PAP do Semiárido e nos renova as esperanças. A MP acudiu mais de 500 mil famílias de agricultores atingidos pela seca, possibilitando a liquidação ou a renegociação de suas dívidas.
Mais do que o necessário alívio financeiro, o que agora anima o produtor nordestino é esta inédita orquestração de setores governamentais na busca de uma política integrada para o semiárido. Nesta orquestração, está presente a preocupação com o acesso às tecnologias disponíveis e com a capacitação dos agricultores e pecuaristas.
Para viabilizar o acesso às tecnologias, a presença efetiva do governo se faz fundamental. Afinal, são necessários investimentos mais altos do que o valor da terra.
E para bem compreender a relevância do aporte tecnológico ao sistema produtivo, dele tirando o melhor proveito, é necessário que se tenha a capacitação adequada.
A contribuição da CNA para este novo olhar dirigido ao produtor nordestino é o programa Sertão Empreendedor, formulado em parceria do Senar com o Sebrae. Este programa estimula o planejamento, uma nova forma de gestão e a adoção de tecnologias voltadas ao semiárido.  O projeto piloto está sendo desenvolvido em seis cidades da Paraíba e será estendido aos nove Estados da região.
Há caminhos para produzir e viver bem no nosso Nordeste, ora seco e inóspito, ora verde e abençoado.
KÁTIA ABREU, 51, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados na Folha de S. Paulo

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