sábado, 22 de dezembro de 2012


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Tecnologia que a cidade não vê



Por Kátia Abreu
O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso
Agricultura é um conceito amplo. Engloba todo produto de origem  animal e vegetal que chega à mesa do brasileiro. Começa pela madeira usada na construção da mesa, passa pela toalha de algodão que forra esta mesa, e tem representação dupla nas carnes. O frango e o porco são produtos agrícolas que têm como principal alimento a ração produzida à base de cereais. A produção de leite, para ter melhor rendimento e constância, também depende das rações à base de grãos.

É comum a confusão entre agricultura e agronegócio. A agricultura diz respeito ao trabalho do agricultor, da preparação da terra à colheita ou venda dos animais. O conceito de agronegócio vai além. Abarca a agricultura e inclui as indústrias que produzem insumos dos quais o agricultor lança mão, bem como a indústria que beneficia a produção agrícola e toda a distribuição dos produtos comercializados.

Esta ampla agricultura brasileira, que há muito deixou de ser mera exportadora de commodity, é baseada em forte aparato tecnológico.

Sementes adaptadas são desenvolvidas com grande esforço por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).  Aí vêm as máquinas agrícolas, os defensivos, os fertilizantes, o emprego da biotecnologia para modificação das variedades adaptadas. E ainda temos técnicas de seleção genética, fertilização in vitro e clonagem, largamente empregadas na produção animal, inclusive peixes.

A despeito do romantismo que pressupõe a atividade de criar, plantar e colher, a disputa entre cada elo da cadeia por maior fatia do lucro do setor nada tem de poética. O elo mais frágil é o agricultor. Ainda que faça uso da tecnologia, como regra geral ele o faz,  não há como superar essa condição de fragilidade, especialmente se o agricultor não tiver escala de produção.

O grande desafio é ampliar o número de produtores que fazem parte do agronegócio de sucesso. Não interessa ao agro ser uma ilha de prosperidade e sim, um continente de sucesso.

Aumentar, fortalecer e consolidar uma classe média rural deve ser o esforço de todos, como foi com a classe média urbana. Este caminho só será possível se fizermos com que toda inovação e tecnologia existentes no país cheguem à maioria dos produtores. Hoje, poucos têm acesso ao aparato tecnológico existente.

O instrumento capaz de democratizar o saber e a tecnologia no campo é a rápida implementação de uma política de extensão rural ou de assistência técnica. Qualificar tecnicamente os produtores para que façam escolhas corretas, para que formatem um plano de negócios e melhorem sua capacitação gerencial, são tarefas absolutamente indispensáveis.

São estes instrumentos que nos permitirão multiplicar a produção de nossas terras, sem que se desmate uma única árvore sequer. O ato de disseminar conhecimento e tecnologia é quase uma profissão de fé. É a forma mais sustentável e honesta de proteger as pessoas e os seus negócios.

Enquanto governos de vários países subvencionam suas agriculturas mundo afora, injetando bilhões de dólares no setor, aqui não existe uma agricultura subsidiada. O produtor trabalha com o controle de custo na mão e, na hora de definir seu sistema de produção, busca, no mercado, as tecnologias desenvolvidas a duras penas pela Embrapa e pelos produtores de insumo.

Nossa escolha é a busca da inovação, que faz com que possamos superar desafios do danoso custo Brasil. A agricultura brasileira – que hoje sustenta a balança comercial, gera mais de um milhão de empregos a cada ano e participa com 22,5% de toda a riqueza produzida na nação –  não vive de benesses governamentais. E não se queixa disso.

Só nos países ricos a sociedade pode se dar ao luxo de bancar a ineficiência de setores da economia que se recusam a investir em tecnologia e inovação, e vivem à caça de subsídios. 
 *Katia Abreu, 50, senadora (PSD/TO) é presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, escreve aos sábados, no caderno Mercado do Jornal Folha de S. Paulo.

"No Brasil, uma proprietária de terras que fala pelo agronegócio"


Na entrevista que concedeu ao jornal americano The Washington Post, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora Kátia Abreu, defendeu a produção sustentável do Brasil, falou do trabalho a frente da CNA e de sua trajetória de vida.
Acesse o texto em inglês, versão online,  publicada em 17/12/2012:
http://www.washingtonpost.com/world/the_americas/in-brazil-a-landholder-who-speaks-for-agribusiness/2012/12/16/178d05ae-43c1-11e2-8c8f-fbebf7ccab4e_story_1.html
Veja abaixo a matéria traduzida:
No Brasil, uma fazendeira que fala pelo agronegócio 
Juan Ferrero (10 fotos e um gráfico na edição on line do The Washington Post de hoje)
ALIANÇA, Brasil - Proprietária de terras e referência do poder na Capital do país, Katia Abreu tem ouvido todas as advertências sobre sítios e fazendas de soja cortando e dividindo as florestas brasileiras.
Mas, enquanto cavalga uma égua castanha entre as áreas de sorgo e milho – espalhadas por 5 mil hectares coberta por suaves colinas do centro-norte do Brasil - Abreu insiste que o agricultor brasileiro deve ser elogiado, não demonizado. A grande agricultura transformou este país em um celeiro para o mundo, disse ela, e o Brasil está pronto para alimentar bilhões.
"Nós não temos vergonha de nada", disse Abreu. "O importante é o Brasil aumentar a produção."
Estas não são palavras vazias, mas sim uma declaração que carrega um grande peso, como bem sabem os ambientalistas — que Abreu vê como adversários.
Isto não é apenas porque o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo de carne bovina e é o 1 º exportador de soja, suco de laranja, café e frango. É também porque Abreu, que é senadora e presidente da associação de agricultores e pecuaristas mais importante do país, opera no mais alto escalão do poder no Brasil.
E sua mensagem é clara: Nós não vamos recuar.
O agronegócio já responde por quase 40% das exportações do país e é reponsável por 37% dos postos de trabalho no Brasil.
Abreu quer ver esses números se expandirem. Mas ela acredita que isso pode ser feito na mesma quantidade de terra agora dedicada a agricultura no Brasil, 28%  do território do país. Isso vai acontecer com o uso de tecnologias agrícolas para melhorar a produtividade.
"O que é importante é que o Brasil pode aumentar a produção com crescimento vertical, não horizontal", disse Abreu, que também salienta que o monitoramento por satélite da Amazônia tem mostrado um declínio no desmatamento desde 2004.
Muitos no Brasil, porém, não estão convencidos de que projeções de sonoridade moderna de Abreu para a produção agrícola estejam alinhadas com o que realmente querem os grandes produtores. Ambientalistas e especialistas no uso da terra no Brasil dizem que há uma ameaça latente, observando que o desmatamento subiu rapidamente este ano em algumas regiões, incluindo o estado de origem de Abreu.
"Eles estão colocando a melhor cara, mas é basicamente uma farsa", disse Christian Poirier, ativista para o Brasil da Amazon Watch, um grupo ambiental com sede na Califórnia. "Isto não está de acordo com o que este bloco fundiário representa, que é a expansão da fronteira".
A disputa pela terra no país foi particularmente realçada este ano, na luta entre ambientalistas e os produtores em torno do que é conhecido como  Código Florestal, uma lei de proteção florestal, que foi promulgada em outubro. Agricultores e pecuaristas lutaram arduamente para retirarem requisitos que obrigavam agricultores a manterem uma larga cobertura florestal em fazendas na Amazônia.
Esse esforço falhou, disse Sergio Sauer, especialista em desenvolvimento rural da Universidade de Brasília. Mas ele disse que houve alterações feitas no antigo Código Florestal que poderiam levar a uma redução na quantidade de floresta que fazendeiros precisariam preservar.
Os críticos da lei também temem que a fiscalização ambiental pode ser mais fraca do que antes - dando a agricultores, pecuaristas e madeireiros uma abertura para destruir a floresta.
"Há menor proteção ao meio ambiente", disse Sauer. "Nosso problema não é tanto a lei, mas a falta de um mecanismo para garantir que a lei seja obedecida."
Ao ocupar vários papéis, Abreu, 50, exerce considerável influência.
Seu grupo, a Confederação Nacional da Agricultura, representa 5 milhões de agricultores e pecuaristas. Em visitas a Washington, China e Europa, ela discute com estudantes universitários, grupos de pressão para a aceitação de culturas geneticamente modificadas e apelos aos investidores do Brasil. Ela também construiu uma estreita relação de trabalho com uma das mulheres mais influentes do mundo, a popular presidente de centro-esquerda do Brasil, Dilma Rousseff.
Senadora desde 2006, Abreu reúne muito da força política do bloco que ela comanda no Congresso Nacional, que é conhecido como ruralista. Uma aliança de fazendeiros e seus apoiadores, que inclui quase  metade dos 513 deputados na Câmara dos Deputados, disse Sylvio Costa, que dirige o Congresso em Foco, uma organização que publica um site de monitoramento dos congressistas.
"Eles se tornaram um dos grupos mais poderosos do Congresso, até mais do que os industriais", disse Costa. "Eles têm o poder de aprovar o que quiserem."
Em um livro sobre  políticos proprietários de terras, "O Partido da Terra," o jornalista Alceu Castilho descreve como os legisladores em todos os níveis, desde prefeitos a senadores,  muitos a partir de cidades pequenas, controlam grandes áreas das melhores terras agrícolas do país. Castilho disse ainda que a influência que desfrutam os proprietários lhes permite escapar da Justiça por crimes que vão desde grilagem de terra até o uso de trabalho escravo.
Para Castilho, os políticos donos de terras permanecem retrógrados na maneira de cuidar de seus interesses,  a exemplo dos pioneiros que arrebataram áreas gigantes na corrida pela terra no Brasil na década de 70. Ele disse que pouco mudou sob a liderança de Abreu, que lidera a Confederação da Agricultura por quatro anos.
"Há uma nova fachada onde têm sido postas ideias antigas", disse Castilho. "É cosmético".
Castilho não é o único que vê os proprietários de terras com desconfiança.
Pesquisas realizadas para a Confederação da Agricultura mostrou que os brasileiros vêm os proprietários de terras como "truculentos, muito poderosos, perigosos, produzindo apenas para exportação ", explicou Abreu.
Abreu disse que seu trabalho tem sido o de acabar com esse ponto de vista, tanto no Brasil quanto no exterior.
"Estamos interessados ​​em nossa imagem", disse Abreu. "Somos brasileiros, como todos os outros, felizes, às vezes tristes, às vezes ficamos  nervosos. Nós somos pessoas normais. "
Em 1987, Abreu tinha uma vida normal e tranquila. Ela estava criando os dois filhos e tinha um terceiro a caminho quando seu marido veio a falecer, pilotando o avião de pequeno porte que ele utilizava para chegar às suas propriedades.
Parentes aconselharam Abreu a vender a fazenda da família. Ela rejeitou o Conselho, embora não soubesse nada sobre agricultura.
"Eu decidi não ter um gerente para a fazenda", lembrou Abreu , "para que eu pudesse aprender tudo sobre agricultura e como fazê-lo."
Abreu agora quer que pessoas de fora visitem sua fazenda, e mais outras duas no estado do Tocantins, que lhe dão controle de mais de 12 mil hectares.
Aqui, ela planta soja e eucalipto. As culturas são rotacionadas para o uso eficiente do solo, e em breve o gado integrado. Sementes geneticamente modificadas são a norma.
"Nós somos produtores modernos", disse Abreu, explicando que inúmeras fazendas como a dela são o motor da economia do Brasil.
Sobre seus críticos, Abreu classifica-os  como  inimigos "ideologicamente comprometidos” dedicados a uma visão fundamentalista da agricultura brasileira.  "Quero falar com as pessoas que são bem intencionadas, mas talvez mal informados", disse ela.

Kátia Abreu observa sua fazenda com seu filho mais velho Irajá Abreu, que também é fazendeiro / Crédito: Juan Forero / The Washington Post

Busca por financiamento no BNB disparou no RN


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Toda semana, das cerca de cem propostas de empréstimos solicitados por produtores rurais que dão entrada na agência de Mossoró, entre 70 a 80 são devolvidos por insuficiência de dados, erros de preenchimento ou informações que não batem umas com as outras, acarretando na recusa dos pedidos. É um problema que atinge hoje todas as regiões do estado.

De maio para cá, quando começou o período de estiagem, o Banco no Nordeste já contratou no RN financiamentos no valor de R$ 114 milhões, dos quais 84% exclusivamente para o meio rural. Mas só apenas a partir de outubro os pedidos de empréstimos pelos agricultores mais do que quadruplicaram em relação aos meses anteriores, sobrecarregando as 12 das agências do BNB no estado.

“Hoje temos 16 pessoas de fora da estrutura do banco trabalhando exclusivamente na análise desses pedidos de financiamento e outras duas da superintendência dando apoio”, disse nesta segunda-feira, Orlando Gadelha Sobrinho, gerente da área agrícola, agricultura familiar e mini produtores rurais do BNB no estado.

Para ele, a corrida por financiamentos do Banco explodiu em outubro porque muita gente não esperava que a estiagem se prolongasse por tanto tempo. “Embora a linha de crédito contemple muitos diferenciais em se tratando do pequeno produtor rural, na prática continua um financiamento bancário e sua concessão requer a apresentação de comprovantes inerentes à tomada de recursos”, afirmou.

E acrescentou: “Seguimos à risca as portarias governamentais (a 4077 para o Pronaf e a 476 para os demais públicos) e não colocamos qualquer empecilho para que os produtores tenham acesso ao recurso. Quando ela (a portaria) trouxer qualquer novidade que facilite o acesso, acataremos imediatamente”.

Segundo Gadelha, só em Mossoró quatro pessoas de fora da estrutura do BNB foram contratadas para agilizar a análise dos pedidos de financiamento. “O problema é que enquanto 100 desses pedidos já estão em análise dentro da instituição, outros 150 entram em média toda a semana”, assinala Gadelha.

Muitos pedidos já analisados retornam, provocando um “retrabalho insano”, como define o próprio gerente. Ele esclarece que além de dados pessoais do tomador e da propriedade, que podem ser obtidos junto ao Instituto de Defesa Agropecuária (Idiarn), o produtor precisa apresentar um projeto onde expõe sua necessidade.

Em se tratando de gente simples, sem instrução, muitos órgãos como a Emater, Sebrae, cooperativas e empresas privadas de assistência agropecuária estão na lista dos que podem assessorar os agricultores na tarefa de preparar os projetos a darem entrada no Banco. Muitos desses agricultores queixam-se de que em suas regiões não encontram essa ajuda.

Até na última sexta-feira, as agências do BNB analisavam 2.450 projetos de empréstimo. “É um número muito grande e é normal que eles atravanquem o serviço”, argumentou o gerente da área agrícola.

Na semana passada, o presidente da Federação da Agricultura, José Álvares Vieira, acusou o BNB de morosidade na liberação dos recursos aos micro e pequenos produtores, que precisam do dinheiro, inclusive, para comprar o milho disponível nos armazéns da Conab no estado.  Nessa mesma ocasião, ele alertou para a falta de dinheiro da receita da Conab para pagar os trabalhadores que recepcionam e ensacam o produto que chega à granel  em carretas do Centro Sul.

“Não bastasse a Conab estar com essa dificuldade, os produtores que precisam de dinheiro para adquirir o milho não estão conseguindo acessar os recursos das linhas de crédito do BNB”, afirmou.

Hoje, em nota, a assessoria de comunicação da Conab em Brasília disse que a interrupção nos embarque de milho destinados à região nordeste se deve ao período de férias coletivas dos armazéns privados, indisponibilidade de caminhões para transporte nas proximidades das datas festivas de fim de ano e necessidades por parte desses armazéns privados realizarem seus balanços. “Diante disso – diz a mensagem -, a Conab solicitou às empresas transportadoras que aumentassem os fluxos de embarques nas semanas anteriores ao dia 14/12/2012, visando evitar possíveis desabastecimentos até a retomada da operação no dia 07/01/2013″.

Fonte: O Jornal de Hoje

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Os caminhos e desafios da carne caprina


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A população de caprinos no país cresceu nos últimos anos, e de forma autônoma, pois foram poucos os programas de expansão do rebanho, ficando a ampliação do volume de animais quase que por conta dos criadores, que tem a seu favor apenas um leite mais valorizado que o leite bovino, e uma carne também mais cotada, porém de menor expansão, sendo que neste aspecto, em poucas ocasiões a demanda foi além de um consumo local, devido à falta de estrutura produtiva organizada.

O último Censo Agropecuário de 2006 (IBGE) mostrou que o rebanho caprino brasileiro era de cerca de 7,1 milhões de cabeças. Este rebanho passou para um total de 9,3 milhões de animais aproximadamente, segundo a Pesquisa Pecuária Municipal de 2010 (IBGE), o que totaliza uma elevação de 2,2 milhões de caprinos, dado que deve ser analisado com cautela, devido às diferenças de metodologias e o potencial de imprecisão das pesquisas, mas que revelam o crescimento real do rebanho, e muito devido as suas qualidades zootécnicas de resistência extrema e rusticidade, que fazem dele um animal ideal para criadores com poucos recursos alimentares e de água, o que por si só explica o fato de que cerca de 90% do rebanho se encontre na região nordeste brasileira, servindo como base alimentar de muitas comunidades, tanto na oferta de leite, quanto de carne, sendo também um importante propulsor de negócios, ainda que sub aproveitado.

Este dado pode ser desdobrado na informação de que 87% dos estabelecimentos relacionados como criadores de cabras, uma soma de cerca de 250 mil unidades familiares e mais de um milhão de pessoas diretamente relacionadas, mantém em torno de 25 caprinos por criador, em média. Com este volume de animais, raramente se observa um grande criador de cabras na região, e por isso há uma série de implicações nesta estrutura, que afetam negativamente o processo de inclusão dos caprinos como um item relevante da economia na região do país.

O caprino tem um espaço já definido no Brasil, e mais ainda no nordeste, para o consumo de subsistência e o segmento de culinária regional, que hoje mata mais ovinos para servir como “bode” numa proporção de aproximadamente quatro ovinos para um caprino abatido, segundo pesquisas não oficiais, havendo ainda outra ponta de consumo, a culinária italiana e espanhola, que tem na perna de cabrito uma das iguarias mais procuradas, mas que no Brasil tem na perna de cordeiro o substituto de ocasião por falta de animais.

Somente esta demanda seria suficiente para anos e anos de produção nacional, mas a tendência ainda assim é de ampliação do consumo, pois a carne caprina é uma das carnes de melhor qualidade nutritiva do mundo, com índices de gordura entre 50-65% inferiores àqueles encontrados em cortes bovinos similares e conteúdo proteico semelhante, apresentando ainda 42-59 % menos gordura que a carne ovina, com teores de gordura saturada em torno de 40% inferior à de galinha (sem pele), sendo bastante reduzido quando comparado ainda com bovinos (850%); ovinos (900%) e suínos (1.100%). As qualidades da carne é que fazem com que o desafio da produção seja respondido com ações bem coordenadas.

O que se busca neste momento é dar outro salto neste patamar de funcionalidade do caprino, para que se converta o grande rebanho que o país possui hoje, o décimo maior do mundo (FAO, 2009) em um bem econômico viável para médios e grandes criadores e no interior deste desafio se encontra a disseminação e consolidação de caprinos especializados e mais eficazes para a produção de carne. A caprinocultura de corte tem a frente um grande desafio, e ao que parece, a raça Boer será uma das responsáveis por transformar um segmento da subsistência familiar em um setor econômico de fato, com maior índice de geração de emprego e renda. Sem se esquecer da raça Anglonubiana, que vive um momento de crescimento expressivo.

No estado de Pernambuco, na cidade de Parnamirim (é isso mesmo, Parnamirim/PE e não RN), o abate de caprinos e ovinos na área da seca ajudará produtores com as características citadas acima, e se o programa se tornar contínuo, será um forte indutor do crescimento do setor. Foram abatidos os primeiros 100 animais das 150 mil cabeças previstas, no Aprisco Abatedouro e Frigorífico da Cooperativa Central Agrícola do Nordeste - COCANE. A operação marcou o lançamento regional de uma ação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade compra direta, com investimentos na ordem de R$ 30 milhões, somente em Pernambuco. No Estado, vão ser beneficiados 7,5 mil agricultores familiares com rebanhos de até 50 animais, atingidos pela seca.

O produtor vai receber R$ 6,65 pelo quilo do animal vivo a ser adquirido pela CONAB. A iniciativa, pioneira na área de abrangência da SUDENE, foi conduzida pelo secretário de Agricultura e Reforma Agrária, Ranilson Ramos, juntamente com a Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, do Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome, Maya Takagi. O programa, previsto para ser executado até o final do ano, poderá ser estendido.

O secretário Ranilson Ramos lembrou que o PAA Especial Caprinos e Ovinos foi proposto à presidente Dilma Rousseff pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, durante a primeira reunião com os governadores dos Estados do Nordeste para discutir ações de convivência com a seca. A logística vai funcionar de acordo com as seguintes competências: o Governo entra com o transporte, identificação dos criadores e cadastramento dos animais, por meio da ADAGRO; o município fica responsável pela organização da estrutura dos currais e recebimento dos rebanhos, enquanto que a compra dos animais e contratação dos abatedouros, para abate e distribuição da carne às entidades sociais, vai ser de responsabilidade da CONAB. Já estão aptos a participar do programa os abatedouros de Afogados da Ingazeira/PE, Bezerros/PE, Floresta/PE e Parnamirim/PE.

Esta iniciativa se soma à produção normal dos criadores, que inclusive em outros estados abastece a indústria, mesmo que de forma limitada, mas que está crescendo de maneira gradual e constante. Um dos exemplos pode ser visto no Frigorífico Baby Bode, situado em Feira de Santana/BA que abate cerca de 2 mil animais ao mês, sendo 20% deles caprinos, adquiridos num sistema de parceria com o Projeto Riocon, um empreendimento dos diretores da Baby Bode criado para desenvolver as cadeias produtivas e assim adquirir e finalizar animais para o abate do frigorífico, por meio de projetos de integração com pequenos e médios produtores da região.

Segundo a Baby Bode, atualmente o volume de abates é maior em relação aos ovinos por uma questão de mercado, pois a produção é distribuída em praças da Região Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo. Neste contexto de ação, o que está em andamento são projetos de melhoria genética de rebanhos que estão adotando a genética Boer para produzir cabritos com mais peso, precocidade e melhor carcaça.

O diferencial da genética Boer

Introduzidos no Brasil há mais ou menos 15 anos, os caprinos Boer passam por boa fase, pois a procura pela carne caprina tem sido grande em todo país, o que qualificou e valorizou a raça. Esta é a afirmação de Marcelo Abdon, presidente da ABCBOER, entidade que congrega os esforços de divulgação da raça. Para ele, os motivos para o crescimento são claros, e se colocam nas características voltadas para produção comercial. “Os pecuaristas que trabalham com caprinos viram que para produzir carne é necessário usar reprodutores da raça Boer, por ser o único caprino no mundo especializado para corte, os animais atingem o peso de abate muito rápido, com excelente carcaça, o que fez com que criadores que usavam outras raças passassem a usar estes reprodutores”, explica Marcelo, acrescentando que a ABCBOER tem feito o possível para divulgar as características destes caprinos, que são animais relativamente novos no país, mas que tem se expandido e hoje são criados em todas as regiões do Brasil, com domínio cada vez mais aperfeiçoado.

Um dos exemplos da expansão da raça no país, e mais ainda na região nordeste, ocorreu na região de Juazeiro/BA, no Vale do São Francisco, onde a ABCBOER realizou, no final de abril, a 12ª Exposição Nacional da Raça, localidade no qual estão sendo formados vários projetos para produzir carne de caprinos, alguns já com mais de 5 mil animais, e que aos poucos se expandem e ganham consistência. A carne caprina, para se tornar a realidade que os produtores desejam, ainda carece de grandes investimentos e uma política setorial mais efetiva, que seja capaz de integrar esforços de criadores, frigoríficos e sistemas de distribuição, para fazer com a produção de carne caprina ocupe seu lugar na economia do agronegócio.

Falta de dinheiro da Conab é para pagar trabalhadores


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Único estado onde os armazéns da Companhia Nacional do Abastecimento estão razoavelmente supridos de milho, o Rio Grande do Norte pode sofrer uma redução desse estoque por falta de trabalhadores para fazer o descarregamento e ensacamento da mercadoria e não pela falta de caminhões, como este jornal divulgou ontem.

Na última quinta-feira, em Currais Novos, um problema com a transportadora fez com que 21 carretas não descarregassem o milho imediatamente, mas esse problema, que já foi resolvido, não teve nada a ver com a Conab e sim a partir de uma desinteligência interna na empresa encarregada do frete, segundo esclareceu no último sábado o presidente da Federação da Agricultura, José Vieira, que monitora de forma independente os carregamentos de milho da companhia.

Sem dinheiro para pagar os trabalhadores já cadastrados nos estados, o temor agora é que, quando os próximos carregamentos chegarem, fiquem impossibilitados de serem recepcionados e trabalhados. José Veira examinou a possibilidade de realizar um convênio com a Conab para levantar a quantia necessária, mas diante de alguns problemas que poderiam ocorrer ele preferiu descartar essa possibilidade.

Diante disso, resolveu apelar para a saída política e procurou ontem o deputado Henrique Eduardo Alves, pedindo sua interveniência no caso junto ao Ministério do Planejamento, onde os recursos são ordenados. O deputado teria se comprometido a ajudar.

Não é muito dinheiro envolvido, segundo José Vieira. “O calculo por cima indica que por volta de R$ 200 mil seriam suficientes para pagar os trabalhadores”, estimou o presidente da Faern. “O problema é que poderíamos arranjar esse recurso se tivéssemos a certeza de ressarcimento, uma vez que a Federação luta com dificuldade para manter suas ações”, afirmou Vieira.

Outro problema que vem se desenhando para os produtores é a morosidade com quea o Banco do Nordeste estaria liberando os recursos para os agricultores adquirirem o milho do programa de balcão da Conab.

“Já tive oportunidade de dizer para o novo superintendente do BNB no estado que essa lentidão tem prejudicado muito os produtores potiguares, que já chegaram a seu limite por causa da seca”, acrescentou Vieira.

O novo superintendente estadual do Banco do Nordeste (BNB) no estado é João Nilton Castro Martins, que substituiu José Maria Vilar, que deixou a superintendência para assumir a superintendência da Área de Gerenciamento Estratégico, na Direção Geral, em Fortaleza.

José Vieira avalia que um problema tem puxado outro na luta dos produtores por condições melhores para minimizar os efeitos da seca no RN.

“A chegada irregular do milho no estado foi o primeiro problema, resolvido depois de muita luta. Hoje, inclusive, somos um dos estados no Nordeste que não tem mais esse desabastecimento. Agora, é a falta de receita da Conab para pagar os trabalhadores responsáveis por ensacar o produto a granel. Quando este problema estiver resolvido, teremos que cobrar do BNB mais agilidade na liberação dos recursos para que os produtores possam adquirir o milho subsidiado do governo”, lembrou Vieira.
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