Na entrevista que concedeu ao jornal americano The Washington Post, a
presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora
Kátia Abreu, defendeu a produção sustentável do Brasil, falou do
trabalho a frente da CNA e de sua trajetória de vida.
Acesse o texto em inglês, versão online, publicada em 17/12/2012:http://www.washingtonpost.com/world/the_americas/in-brazil-a-landholder-who-speaks-for-agribusiness/2012/12/16/178d05ae-43c1-11e2-8c8f-fbebf7ccab4e_story_1.html
Veja abaixo a matéria traduzida:
No Brasil, uma fazendeira que fala pelo agronegócio
Juan Ferrero (10 fotos e um gráfico na edição on line do The Washington Post de hoje)
ALIANÇA, Brasil - Proprietária
de terras e referência do poder na Capital do país, Katia Abreu tem
ouvido todas as advertências sobre sítios e fazendas de soja cortando e
dividindo as florestas brasileiras.
Mas, enquanto cavalga uma égua castanha
entre as áreas de sorgo e milho – espalhadas por 5 mil hectares coberta
por suaves colinas do centro-norte do Brasil - Abreu insiste que o
agricultor brasileiro deve ser elogiado, não demonizado. A grande
agricultura transformou este país em um celeiro para o mundo, disse ela,
e o Brasil está pronto para alimentar bilhões.
"Nós não temos vergonha de nada", disse Abreu. "O importante é o Brasil aumentar a produção."
Estas não são palavras vazias, mas sim
uma declaração que carrega um grande peso, como bem sabem os
ambientalistas — que Abreu vê como adversários.
Isto não é apenas porque o Brasil tem o
maior rebanho comercial do mundo de carne bovina e é o 1 º exportador de
soja, suco de laranja, café e frango. É também porque Abreu, que é
senadora e presidente da associação de agricultores e pecuaristas mais
importante do país, opera no mais alto escalão do poder no Brasil.
E sua mensagem é clara: Nós não vamos recuar.
O agronegócio já responde por quase 40% das exportações do país e é reponsável por 37% dos postos de trabalho no Brasil.
Abreu quer ver esses números se
expandirem. Mas ela acredita que isso pode ser feito na mesma quantidade
de terra agora dedicada a agricultura no Brasil, 28% do território do
país. Isso vai acontecer com o uso de tecnologias agrícolas para
melhorar a produtividade.
"O que é importante é que o Brasil pode
aumentar a produção com crescimento vertical, não horizontal", disse
Abreu, que também salienta que o monitoramento por satélite da Amazônia
tem mostrado um declínio no desmatamento desde 2004.
Muitos no Brasil, porém, não estão
convencidos de que projeções de sonoridade moderna de Abreu para a
produção agrícola estejam alinhadas com o que realmente querem os
grandes produtores. Ambientalistas e especialistas no uso da terra no
Brasil dizem que há uma ameaça latente, observando que o desmatamento
subiu rapidamente este ano em algumas regiões, incluindo o estado de
origem de Abreu.
"Eles estão colocando a melhor cara, mas é
basicamente uma farsa", disse Christian Poirier, ativista para o Brasil
da Amazon Watch, um grupo ambiental com sede na Califórnia. "Isto não
está de acordo com o que este bloco fundiário representa, que é a
expansão da fronteira".
A disputa pela terra no país foi
particularmente realçada este ano, na luta entre ambientalistas e os
produtores em torno do que é conhecido como Código Florestal, uma lei
de proteção florestal, que foi promulgada em outubro. Agricultores e
pecuaristas lutaram arduamente para retirarem requisitos que obrigavam
agricultores a manterem uma larga cobertura florestal em fazendas na
Amazônia.
Esse esforço falhou, disse Sergio Sauer,
especialista em desenvolvimento rural da Universidade de Brasília. Mas
ele disse que houve alterações feitas no antigo Código Florestal que
poderiam levar a uma redução na quantidade de floresta que fazendeiros
precisariam preservar.
Os críticos da lei também temem que a
fiscalização ambiental pode ser mais fraca do que antes - dando a
agricultores, pecuaristas e madeireiros uma abertura para destruir a
floresta.
"Há menor proteção ao meio ambiente",
disse Sauer. "Nosso problema não é tanto a lei, mas a falta de um
mecanismo para garantir que a lei seja obedecida."
Ao ocupar vários papéis, Abreu, 50, exerce considerável influência.
Seu grupo, a Confederação Nacional da
Agricultura, representa 5 milhões de agricultores e pecuaristas. Em
visitas a Washington, China e Europa, ela discute com estudantes
universitários, grupos de pressão para a aceitação de culturas
geneticamente modificadas e apelos aos investidores do Brasil. Ela
também construiu uma estreita relação de trabalho com uma das mulheres
mais influentes do mundo, a popular presidente de centro-esquerda do
Brasil, Dilma Rousseff.
Senadora desde 2006, Abreu reúne muito da
força política do bloco que ela comanda no Congresso Nacional, que é
conhecido como ruralista. Uma aliança de fazendeiros e seus apoiadores,
que inclui quase metade dos 513 deputados na Câmara dos Deputados,
disse Sylvio Costa, que dirige o Congresso em Foco, uma organização que
publica um site de monitoramento dos congressistas.
"Eles se tornaram um dos grupos mais
poderosos do Congresso, até mais do que os industriais", disse Costa.
"Eles têm o poder de aprovar o que quiserem."
Em um livro sobre políticos
proprietários de terras, "O Partido da Terra," o jornalista Alceu
Castilho descreve como os legisladores em todos os níveis, desde
prefeitos a senadores, muitos a partir de cidades pequenas, controlam
grandes áreas das melhores terras agrícolas do país. Castilho disse
ainda que a influência que desfrutam os proprietários lhes permite
escapar da Justiça por crimes que vão desde grilagem de terra até o uso
de trabalho escravo.
Para Castilho, os políticos donos de
terras permanecem retrógrados na maneira de cuidar de seus interesses, a
exemplo dos pioneiros que arrebataram áreas gigantes na corrida pela
terra no Brasil na década de 70. Ele disse que pouco mudou sob a
liderança de Abreu, que lidera a Confederação da Agricultura por quatro
anos.
"Há uma nova fachada onde têm sido postas ideias antigas", disse Castilho. "É cosmético".
Castilho não é o único que vê os proprietários de terras com desconfiança.
Pesquisas realizadas para a Confederação
da Agricultura mostrou que os brasileiros vêm os proprietários de terras
como "truculentos, muito poderosos, perigosos, produzindo apenas para
exportação ", explicou Abreu.
Abreu disse que seu trabalho tem sido o de acabar com esse ponto de vista, tanto no Brasil quanto no exterior.
"Estamos interessados em nossa imagem",
disse Abreu. "Somos brasileiros, como todos os outros, felizes, às
vezes tristes, às vezes ficamos nervosos. Nós somos pessoas normais. "
Em 1987, Abreu tinha uma vida normal e
tranquila. Ela estava criando os dois filhos e tinha um terceiro a
caminho quando seu marido veio a falecer, pilotando o avião de pequeno
porte que ele utilizava para chegar às suas propriedades.
Parentes aconselharam Abreu a vender a fazenda da família. Ela rejeitou o Conselho, embora não soubesse nada sobre agricultura.
"Eu decidi não ter um gerente para a
fazenda", lembrou Abreu , "para que eu pudesse aprender tudo sobre
agricultura e como fazê-lo."
Abreu agora quer que pessoas de fora
visitem sua fazenda, e mais outras duas no estado do Tocantins, que lhe
dão controle de mais de 12 mil hectares.
Aqui, ela planta soja e eucalipto. As
culturas são rotacionadas para o uso eficiente do solo, e em breve o
gado integrado. Sementes geneticamente modificadas são a norma.
"Nós somos produtores modernos", disse Abreu, explicando que inúmeras fazendas como a dela são o motor da economia do Brasil.
Sobre seus críticos, Abreu classifica-os
como inimigos "ideologicamente comprometidos” dedicados a uma visão
fundamentalista da agricultura brasileira. "Quero falar com as pessoas
que são bem intencionadas, mas talvez mal informados", disse ela.
Kátia Abreu observa sua fazenda com
seu filho mais velho Irajá Abreu, que também é fazendeiro / Crédito:
Juan Forero / The Washington Post
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