Assim como a indústria, a
agropecuária potiguar clama por novos incentivos. O setor vem
enfrentando dificuldades no Rio Grande do Norte. A produção de camarão e
frutas, produtos que já foram carros-chefes da economia, vem perdendo
força nos últimos anos. O ambiente atual não é favorável ao setor,
segundo a Federação da Agricultura e Pecuária no Rio Grande do Norte
(Faern). Deficiências no órgão fiscalizador (Idiarn), atrasos no
pagamento do programa do leite e infraestrutura precária impedem que o
setor cresça como deveria. À isso, somam-se condições climáticas também
desfavoráveis a produção e criação de animais. "O criador não encontra
um ambiente favorável para desenvolver sua atividade no estado", afirma
José Vieira, presidente da federação.
No Ceará, a situação
é outra. Em poucos anos, o estado ultrapassou o RN e se tornou o maior
produtor de camarão do país. Também se transformou no maior exportador
de frutas do Brasil. Um estudo do Serviço de Apoio à Micro e Pequena
Empresa (Sebrae RN), publicado no início do ano, mostra o avanço. O RN
escoava 61,14% do valor gerado com as exportações brasileiras da fruta,
em 2005. O percentual despencou para 39,39% no ano passado. No mesmo
período, a participação do Ceará passou 37,69% para 59,52%. "O governo
cearense apoia o setor", justifica Vieira. Mas não é só isso. "O Ceará
tem porto, estradas, projetos de irrigação", completa.
O
fruticultor Segundo de Paula, presidente do Comitê Executivo de
Fitossanidade do RN (COEX) e representante dos fruticultores potiguares e
cearenses, cobra ações. Ele cita pelo menos quatro: a conclusão da
estrada de melão, a reestruturação do Idiarn, o cumprimento da Lei
Kandir e a abertura de uma Embrapa no estado. Segundo o Coex, cerca de
70% das frutas produzidas no RN são escoadas pelo Ceará. Apenas de
agosto a janeiro - período da safra - 1.100 contêineres saíram do porto
de Pecém, no Ceará, por semana. Desse total, cerca de 80% foram
preenchidos com produção do Rio Grande do Norte. De acordo com estudo
recente publicado pelo Sebrae, do total de mercadorias exportadas pelo
RN no primeiro trimestre do ano 58,92% saiu por outros portos. Só por
Pecém, saiu 32,56%.
Os produtores potiguares se
comprometeram a aumentar a quantidade de frutas escoada pelo porto de
Natal, mas reconhecem que há limitações. "Exportamos mil contêineres por
semana. Pelo Porto de Natal, saem 200 ou 300. Vamos tentar melhorar um
pouco, mas não podemos aumentar muito para não atrapalhar o trânsito em
Natal", afirma. "O porto de Pecém possui uma retroárea enorme e não tem
problema de calado (profundidade do rio). Além disso, o governo cearense
cumpre a Lei Kandir, que devolve os créditos de ICMS aos exportadores, e
isso é fundamental", completa.
Entidades defendem mais diálogo
Federação
da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Norte (Faern), Associação
Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC) e Comitê Executivo
Fitossanidade do RN cobram mais diálogo com o governo do estado. O
governo do estado, segundo Itamar Rocha, da ABCC, deveria chamar os
produtores para uma conversa. "Este seria o caminho mais curto para
conhecer os problemas e encontrar soluções", defende.
José
Vieira, da Faern, também defende um maior diálogo. A Federação chegou a
criar uma comissão formada por várias entidades, entre elas a
Associação Norte Rio Grandense de Criadores e o Sebrae, para debater os
problemas que afligem a pecuária leiteira. As soluções serão
apresentadas na próxima semana ao governo. Para José Vieira, o governo
está 'sonolento'. Itamar Rocha usou uma palavra semelhante para
expressar o mesmo pensamento. "O RN é apático". Para ele, falta alguma
coisa. "Temos muita influência no Senado e na Câmara, mas não vemos
iniciativa". Todos têm uma parcela de culpa, diz o presidente da ABCC.
Existe uma apatia muito grande do governo, da classe política e do
empresariado, que não faz nenhuma cobrança".
As pessoas,
afirma Itamar, estariam acomodadas. "O RN fica vendo o bonde passar e
não pega carona. É chato ver tudo indo para o Ceará", conclui. A
reportagem tentou contato com o secretário estadual de Agricultura e
Pecuária, Betinho Rosado, mas não obteve êxito na tarde de ontem.
Licenciamentos atrapalham carcinicultura, diz ABCC
Não
é só a fruticultura que tem considerado o ambiente no RN desfavorável.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão
(ABCC), Itamar Rocha, a dificuldade em obter licenciamento ainda é o
principal problema enfrentado pelos carcinicultores no estado. "Os
bancos têm dinheiro para o micro e pequeno produtor, mas só liberam para
quem tem com licença ambiental". Dificuldades como essas acabaram
tirando o fôlego da carcinicultura potiguar. Enquanto o RN, que já foi o
maior produtor de camarão no país, produziu 23 mil toneladas no ano
passado, o Ceará produziu 30 mil toneladas. Itamar Rocha cobra
desoneração da folha de pagamento e isenção de Pis/Cofins para os
produtores.
Até as cabras leiteiras de Lajes estão
deixando o Rio Grande do Norte, destaca José Vieira, da Faern. O estado
vizinho conseguiu atrair grandes indústrias de derivados do leite nos
últimos meses, como a Danone, aumentando a demanda por leite. "Se o
governo do estado não agir imediatamente, o rebanho potiguar diminuirá
em 40%, em função de todos esses problemas", alerta Vieira. Apesar do
cenário desfavorável, José Vieira, Itamar Rocha e Segundo de Paula
acreditam que é possível mudar o quadro. "Não há nada que não possa ser
revertido", afirma Itamar Rocha, da ABCC.