Após o enriquecimento no meio urbano, chegou a hora de o campo também colher os frutos do avanço do país
O Brasil transformou-se em um dos três
maiores produtores e exportadores de produtos agropecuários do mundo em
menos de 40 anos. Essa transformação foi resultado da combinação de
empreendedorismo privado, apoio do Estado (por meio do crédito rural) e
difusão da pesquisa agronômica. As políticas públicas de apoio à
produção rural, contudo, permaneceram as mesmas da década de 1970.
O Plano Agrícola e Pecuário 2012/13,
lançado na semana passada, deve ser visto como um marco divisório.
Reduziu juros, aumentou recursos para custeio e investimento e abriu
novos e amplos caminhos que poderão fazer toda a diferença para o
agronegócio brasileiro.
A primeira e mais profunda mudança de
rumo na política agrícola do país é o aumento substancial do seguro
rural. O volume era muito modesto e não cobria mais de 5% de nossa área
plantada.
O governo agora eleva substancialmente as
dotações, permitindo que o Brasil possa ter cerca de 20% da área
plantada coberta por seguro. Até 2015, esperamos ter 50% da área
coberta. Sem dúvida, uma mudança de paradigma.
Nesse novo modelo, as operações de
crédito ocorrerão com maior transparência. Uma central única de riscos
permitirá aos agentes financeiros conhecer com mais segurança o nível de
endividamento dos tomadores de crédito e, nesse ramo, mais conhecimento
significa juros menores.
Outra iniciativa que merece destaque é a
criação de uma instituição com a função de coordenar e de fomentar a
extensão rural no país. Mais de 3,5 milhões de produtores rurais (cerca
de 70% do setor) vivem praticamente da agricultura de subsistência, nos
limites da situação de pobreza. Enquanto na economia urbana um número
cada vez maior de brasileiros ascende à classe média, na zona rural o
progresso não alcança a grande maioria. Ao contrário, a classe média do
campo está sendo comprimida.
Sabemos que o ativo que determina o nível
de renda no mundo moderno é o conhecimento. E esse conhecimento não
pode continuar distribuído de modo desigual entre os brasileiros do
campo. É preciso dar a todos condições iguais de acesso a insumos
tecnológicos modernos, democratizando o conhecimento produzido por
pesquisadores país afora, em especial na Embrapa, nas nossas excelentes
universidades rurais e em um número cada vez maior de empresas privadas
-que nos deram a agricultura de precisão, o etanol de segunda geração e
as técnicas de baixa emissão de carbono, por exemplo.
Parece ter chegado a hora de recriar, de
forma moderna, baseados em meritocracia, os sistemas de extensão rural
no Brasil. O governo federal merece nosso aplauso por essa iniciativa de
longo alcance.
A participação do custo da alimentação na
renda do trabalhador da cidade caiu de mais de 40% para 17%, nas
últimas décadas. Essa diferença virou eletrodomésticos, educação para os
filhos, carro, casa própria. Impulsionou as classes mais baixas da
população urbana para a classe média.
Chegou a hora de o campo também colher os
frutos do crescimento do Brasil. O seguro agrícola vai diminuir o
risco, ampliando a capacidade de produção e o tamanho da classe média
rural. Extensão e assistência técnica reduzirão o abismo entre os que
praticam a boa gestão e os que nem sequer a conhecem, tirando milhões de
agricultores da pobreza.
Confio em que estamos iniciando um
círculo virtuoso, fruto da união de produtores e do governo, que estão
dando as mãos para construir um Brasil mais igual e mais justo.
*Kátia Abreu é senadora (PSD-TO) e a
principal líder da bancada ruralista no Congresso. Formada em
psicologia, preside a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa do
caderno "Mercado" do Jornal Folha de S. Paulo