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Por Maurício Lopes* e Eliseu Alves**
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) nasceu como resposta do governo federal a crises
de abastecimento de alimentos na metade das décadas de 1960 e 1970, da
necessidade de aumentar e diversificar as exportações e de reduzir os
preços dos alimentos, que pressionavam salários urbanos. Essas ações
foram fundamentais para a política de industrialização brasileira
vigente na época.
Políticas anteriores, como investimentos
em armazenamento, extensão e crédito rural, não aumentaram a produção
agrícola no ritmo da demanda. O ministro da Agricultura na ocasião, Luiz
Fernando Cirne Lima, determinou então à Associação Brasileira de
Crédito e Assistência Rural a criação de um grupo para estudar por que a
agricultura não respondia aos estímulos do governo com o incremento da
produtividade. O professor José Pastore, da Universidade de São Paulo
(USP) e integrante da equipe do então ministro Antônio Delfim Netto, da
Fazenda, liderou a equipe formada, em sua maioria, por recém-egressos
dos cursos de doutorado no exterior nas áreas de ciências sociais.
O grupo concluiu pela necessidade de
criação de uma instituição de pesquisa agropecuária de âmbito nacional,
com flexibilidade para gerir pessoal e orçamento, baseada em
pesquisadores de experiência e competência internacionais. A forma
jurídica proposta foi de empresa pública de direito privado. Em dezembro
de 1972, a Lei n.º 5.851 criou a Embrapa e sua inauguração ocorreu em
26 de abril de 1973, há 40 anos.
A Embrapa organizou-se em centros
nacionais especializados e desenvolveu amplo programa de formação de
pesquisadores. Trouxe os agricultores para dentro de suas unidades e
criou vínculos com a pesquisa do mundo todo. No período de 40 anos,
tem-se fundamentado nos mesmos princípios: centrada nos problemas dos
agricultores, da agricultura, das exportações e da alimentação do povo
brasileiro; com presença nacional, ela investe na qualidade e
competência de seus servidores e está presente nos países desenvolvidos
por intermédio de laboratórios especializados (Labex), e coopera com
países em desenvolvimento das Américas, na África e na Ásia.
A Embrapa, com seus 47 centros de
pesquisa, está presente em todas as regiões do Brasil, de norte a sul.
Seus 2.427 cientistas, dos quais 1.789 com doutorado e 242 com
pós-doutorado, realizam pesquisas nos principais produtos (por exemplo,
grãos, pecuária, frutas e hortaliças), em temas estratégicos (por
exemplo, biotecnologia, nanotecnologia, agroindústria) e para os
principais ecossistemas brasileiros (Semiárido, Amazônia, Cerrados,
Pantanal).
Dentre as tecnologias e soluções
desenvolvidas pela empresa e suas instituições parceiras, destacam-se:
1) Inovações para a inserção dos Cerrados ao sistema produtivo, hoje
representando mais da metade da produção de grãos e significativa
participação na produção de carne bovina; 2) a fixação biológica de
nitrogênio em soja, representando uma economia em insumos para os
agricultores da ordem de US$ 8 bilhões anuais, além dos benefícios
ambientais; 3) o desenvolvimento de variedades de culturas,
particularmente para regiões tropicais; 4) a disseminação de pastagens
melhoradas para a pecuária de leite e de corte; e 5) desenvolvimento e
aprovação do feijão transgênico, livre do mosaico dourado.
Desde a criação da Embrapa até hoje, a
agricultura brasileira deu enorme salto. Do lado da demanda, o mercado
interno cresceu em consequência do aumento da população, da renda per
capita e dos programas de transferência de renda do governo; o aumento
populacional e a elevação da renda per capita em âmbito mundial também
explicam o espetacular crescimento das exportações de produtos do
agronegócio.
Mas o fator unificador que explica o
sucesso do agronegócio é a tecnologia. Estudos econométricos da Embrapa,
com dados do Censo Agropecuário de 2006, mostraram o domínio da
tecnologia em explicar a variação da produção. Naquele ano, a tecnologia
explicou 68,1%, o trabalho, 22,3% e a terra, tão somente 9,6% do
incremento da produção. A área explorada expandiu-se muito pouco. Isso
tem enorme implicação para as políticas de proteção do meio ambiente.
As exportações do agronegócio têm
respondido por 40% da totalidade do saldo na balança comercial
brasileira. Assim, a tecnologia ajudou o Brasil a abastecer o seu povo a
preços estáveis e garantiu elevado saldo da balança comercial. Em 2012 o
saldo do agronegócio valeu US$ 79,4 bilhões.
Quanto ao futuro, o desenvolvimento da
agricultura e do agronegócio dependerá, cada vez mais, do uso da ciência
e tecnologia, desenvolvida no País ou incorporada do exterior. Estamos
no limiar de nova revolução tecnológica em ciências agrárias e afins,
destacando-se o potencial da biotecnologia moderna, da nanotecnologia,
da bioquímica e de sistemas de informação. Com tecnologias mais
eficientes garantiremos o suprimento interno e exportações de alimentos,
fibras, agroenergia e produtos florestais, em escala crescente.
Nos próximos anos, a pesquisa
agropecuária fortalecerá a incorporação de mais de 3 milhões de pequenos
produtores ao mercado, ajudando a aumentar sua renda e seu bem-estar,
por meio da tecnologia; o desenvolvimento de produtos numa proposta de
prevenção de doenças via alimentação mais saudável; a geração de
tecnologias mais apropriadas à agricultura nas Regiões Norte e Nordeste,
cujas rendas médias estão bem abaixo das médias nacionais; a ampliação
de conhecimentos e tecnologias amigáveis ao meio ambiente; o
desenvolvimento de máquinas, equipamentos e sistemas de produção para
poupar mão de obra nas atividades agrícolas, cada vez mais escassa e
cara.
Desafios não faltam.
*Maurício Lopes (foto) - Presidente da Embrapa
** Eliseu Alves - Fundador da Embrapa
Artigo publicado no Jornal O Estado de S. Paulo