Na regional da Companhia Nacional
de Abastecimento (Conab), cresce o número de denúncias a respeito de
criadores que, em posse de ração comprada a preços menores, subsidiados
pelo governo federal, revendem a mercadoria, o que é ilegal. Ontem, o
superintendente do órgão, João Maria Lúcio da Silva confirmou que já
pediu, inclusive, o apoio da Diretoria Nacional de Abastecimento para
conter o mercado irregular.
Segundo ele, há dificuldades
para checar as denúncias, feitas geralmente por anônimos. "As pessoas
não querem se identificar e também não temos o poder de polícia para
entrar nos estabelecimentos onde o crime pode estar ocorrendo", disse
João Lúcio.
De acordo com ele, as denúncias começaram a
aumentar, ano passado, desde que o programa de Vendas em Balcão ganhou
força no Estado, após o decreto de emergência, decorrente da seca.
Segundo João Lúcio, pelas denúncias que chegam à Conab, algumas pessoas
começaram a tirar vantagem do programa de subsídio, revendendo o insumo
por valores elevados, para lucrar.
Uma saca de 50kg de
milho custa, com subsídio, R$ 18,12. No mercado comum, a saca pode
chegar a R$ 60. De acordo com o superintendente da Conab, João Maria
Lúcio da Silva, o estoque atual, de 2.500, não é suficiente para
atender os 16,5 mil cadastrados no programa de Vendas em Balcã, no no
Rio Grande do Norte. Por dia, a Conab recebe cerca de 300 novos
cadastros.
"Estamos racionando e a venda está limitada a 3
toneladas por agricultor ou criador cadastrado", disse João Lúcio. Para
ter acesso ao benefício, os agricultores precisam residir nos
municípios em estado de emergência e comprovar o registro de rebanho
vacinado (liberado pelo Instituto de Defesa Agropecuária do RN -
Idiarn).
Para conter o mercado irregular de rações, a
Conab enviou, em julho do ano passado, um ofício à Secretaria de
Estadual de Tributação (SET), pedindo a disponibilização de auditores
para fiscalizar as possíveis infrações. Até agora, o governo não acenou
com qualquer resposta. "Já tentei contato com o secretários várias
vezes, mas não recebi retorno".
No último dia 15, a Conab
também apelou para a esfera nacional e solicitou à Diretoria Nacional de
Abastecimento, em Brasília, o envio de seis fiscais. "Eles passariam 20
dias no Estado e teriam condições de nos repassar esse diagnóstico. O
pedido está em análise", afirmou o superintendente da Conab no Estado
Procurada por nossa reportagem, a SET afirmou que não tem poder de
decisão sobre o assunto e informou que o ofício foi repassado à
Secretaria Estadual de Agricultura. Até o fechamento desta edição, o
titular de Agricultura, José Simplício de Holanda, não retornou às
ligações da reportagem.
Para João Lúcio, a situação não
será resolvida enquanto fiscais não forem liberados para vistoriar os
municípios do Estado que decretaram emergência. "Como os nossos fiscais
só têm acesso às propriedades, não temos como definir a gravidade da
situação no comércio do interior do Rio Grande do Norte", disse ele.
Outra
preocupação é quanto ao fim do subsidio ao programa de Vendas em
Balcão, que pode ser interrompido em 28 de fevereiro. Em virtude disso, a
governadora Rosalba Ciarlini encaminhará ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) um pedido para estender o período de
venda, pela Conab, de milho subsidiado em balcão até maio de 2013. O
pleito foi definido na 37ª reunião do Comitê Estadual de Combate aos
Efeitos da Seca, que aconteceu na segunda-feira, 28.
O
Comitê também discutiu ações do projeto PAC Seca, do programa de
distribuição de forragem e as alternativas para a aquisição de volumoso
para o gado em usinas de processamento de cana-de-açúcar localizadas em
outros estados da Federação. Todos esses pontos serão apresentados pela
governadora Rosalba Ciarlini ao ministro Mendes Ribeiro Filho, durante
audiência no MAPA, em Brasília.
Fórum reivindica ações concretas para o semiárido
O
Fórum do Campo Potiguar, a Articulação do Semiárido no Rio Grande do
Norte - Asa Potiguar e a Igreja Católica vão se reunir amanhã, 31, às
10 horas, no Centro Pastoral Pio X, subsolo da Catedral Metropolitana de
Natal para discutir ações de convivência com a estiagem, especialmente
no Semiárido do Rio Grande do Norte. O Fórum pretende convocar a
sociedade a se mobilizar para que sejam tomadas medidas efetivas e
reivindicar do Estado ações concretas que amenizem os efeitos da seca.
A
reunião é consequência de uma outra realizada em abril do ano passado,
com a participação da Arquidiocese de Natal e das entidades que compõem o
Fórum do Campo Potiguar. Na ocasião, foi lançada a Carta do Campo
Potiguar, pela afirmação da vida no Semiárido e convivência com a seca.
Entre
os participantes da reunião, no próximo dia 31, estarão representantes
da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RN, da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar do RN, Articulação do Semiárido -
ASA Potiguar e a Igreja Católica, representada pelo Arcebispo de Natal,
Dom Jaime Vieira Rocha, pelo administrador diocesano de Caicó, Padre
Ivanoff Pereira, e pelo Padre Talvacy Chaves, do Conselho Diretor de
Cáritas, da Diocese de Mossoró.