A estimativa do Instituto de
Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (Idiarn) é de uma diminuição de 25%
no rebanho potiguar por conta da seca que se iniciou no ano passado e
vem se prolongando até hoje. Os dados, coletados através do cadastro de
vacinação dos animais, não são definitivos. "Só terminaremos de tabular
esses dados no fim do mês, mas trabalhamos com a estimativa de 25% de
diminuição", diz Fabiana Gameleira, diretora do órgão. Entidades ligadas
à pecuária consideram a estimativa "otimista".
A
porcentagem de 25% significa uma perda de 225 mil cabeças de gado. O
rebanho potiguar foi estimado em 900 mil cabeças no ano passado pelo
IBGE. Isso não significa que 225 mil reses morreram de fome e sede
durante a seca. Como a TRIBUNA DO NORTE publicou em duas séries de
matérias sobre a seca, muitos criadores acabam vendendo parte do
rebanho. "Pode-se dizer que houve essa diminuição, mas não
necessariamente por morte do rebanho. Maior parte dos criadores teve que
se desfazer do gado por conta da seca", diz o Federação da Agricultura
e Pecuária do Rio Grande do Norte, José Vieira.
Os
números da estimativa do Governo do Estado são considerados "otimistas"
pela Faern. Os cálculos do presidente da Federação, que tem andado o
interior do Estado e visto in loco o andamento dos efeitos da seca,
apontam para perdas de mais de 30%. E esse número não é definitivo. "Nem
teria como ser definitivo, até porque a seca não acabou", acrescenta.
Os criadores esperam seca pelo menos até março, quando inicia o período
chuvoso no semiárido. Em caso de mais um ano de seca, os efeitos podem
ser mais devastadores. " Os prognósticos não são animadores", diz
Vieira.
O presidente da Faern criticou também a atuação do
Governo do Estado. Para José Vieira, o Governo tem sido "tímido" em
encontrar formas de minimizar os efeitos da seca. "São poucos poços
instalados e poucos dessalinizadores. Existe uma inércia na secretaria",
aponta Vieira. As ações mais efetivas, para ele, são capitaneadas hoje
pelo Governo Federal. "Estados como Paraíba e Pernambuco estão
largamente na frente", diz.
Como a TRIBUNA DO NORTE
mostrou ontem, o principal programa do Governo do Estado para a
convivência dos agricultores com a seca a longo prazo atinge, segundo os
dados da Secretaria Estadual de Agricultura, cerca de 1,25% da área
atualmente usada para o plantio no Estado. O secretário-adjunto da
Secretaria, Simplício Holanda, disse que cada barragem subterrânea irá
atender entre 0,5 e 1,5 hectare. Como serão instaladas 3,4 mil barragens
subterrâneas, a área total atendida será 5,1 mil hectares, o que
significa 1,25% dos cerca de 405 mil hectares de área plantada no
Estado. Além disso, até agora foram ativados 70 poços dos 800 anunciados
pelo Governo no ano passado.
A instalação de barragens
subterrâneas não é a única ação da Secretaria Estadual de Agricultura
para o combate à seca. Hoje, as ações se dividem em duas linhas de ação:
projetos para combate imediato e projetos para a convivência a longo
prazo com a estiagem. Dentro dos projetos de convivência a longo prazo, o
principal é a construção de barragens subterrâneas. Esses projetos se
somam às iniciativas de combate imediato à seca. Foram distribuídas até o
momento quatro mil toneladas de forragem para pequenos produtores. E
mais 3,8 mil serão distribuídas.
Bate-papo
José Vieira, presidente da Faern
"É bom lembrar que a seca ainda não terminou"
A estimativa de 25% está abaixo do visto pela Federação?
É
um dado oficial. Mas temos andado pelo interior e visto que hoje deve
estar mais de 30% de diminuição. O que não quer dizer que todo esse gado
morreu de fome e sede. Grande parte foi negociado, vendido mesmo.
Vocês imaginavam 50% de perda. Por que isso não se confirmou? As ações do governo influenciaram?
É
bom lembrar que a seca ainda não terminou. Temos mais dias de seca no
horizonte e o prognóstico não é animador. Mas a atuação do Governo ainda
é muito tímida. Falta algo mais efetivo, de pulso, para ajudar o
criador a passar por esse período difícil.
Alguns criadores reclamam que a Secretaria de Agricultura não tem dado respostas. O senhor concorda?
Sim.
A Secretaria está sem titular e acho que a governadora não poderia, num
momento como esse, de seca, deixar a Secretaria de Agricultura sem
titular. Estamos sem planejamento. Algumas pessoas, funcionários,
reclamam de dificuldade em obter diárias para ir a campo. Não é algo
comprovado, mas é o que se ouve.
Memória
Mais
um boletim acerca do período chuvoso em 2013 deve ser anunciado nos
próximos dias. Desde o início da semana está sendo realizado o 15º
Workshop Internacional de Avaliação Climática para o Semiárido
Nordestino. O resultado do encontro ainda não traduz a previsão final
dos meteorologistas para o ano. No final do mês de fevereiro, outro
evento será realizado, dessa vez em Natal, para traçar a previsão
meteorológica dos meses de março, abril e maio.
Nessa
reunião, os meteorologistas irão elaborar o boletim relativo ao período
chuvoso do semiárido, que começa em março e se estende até maio.
Trata-se da previsão final dos profissionais e técnicos em previsão do
tempo, o que irá orientar a política de distribuição de sementes para a
agricultura.
Entre as instituições envolvidas estão a Emparn e os institutos de cada estado nordestino, entre outros centros de estudo.
Fonte: Tribuna do Norte