César Militão, Presidente do Sindicato Produtores Rurais de Lajes
Em reunião realizada na Secretaria da Agricultura, com as presenças
dos organizadores da EXPOLAJES - César Militão e Idalécio Pinheiro
(representantes da Acosc e Sindicato dos Produtores de Lajes), do
presidente da Emater, Henderson Magalhães, do presidente da Ancoc,
Alexandre Confessor, do Diretor técnico da EMPARN, Alexandre Wanderley, e
do presidente da Federação da Agricultura, José Álvares Vieira, o
Secretário da Agricultura, Junior Teixeira, informou aos presentes que o
Estado não teria disponibilidade de recursos para promover a
realização da XX EXPOLAJES, que estava prevista para o último final de
semana de agosto.
“Uma triste notícia para a nossa cidade, a para a caprinovinocultura
da Região Central e um fim melancólico para uma exposição constante do
Rank nacional, no ano em que completaria vinte anos sem interrupção,
ressaltou o presidente do Sindicato dos Produtores de Lajes, César
Militão.
De acordo com o presidente da Faern, José Vieira, quem perderá com o
cancelamento da ExpoLajes serão os produtores rurais. “Fiquei muito
triste com essa informação. A Federação da Agricultura, entidade que
sempre ajudou na feira, sabe da importância da exposição para a economia
local e para os negócios de nossos produtores. O Governo deve uma
resposta aos produtores. Deve uma resposta concreta a cidade de Lajes”,
finalizou Vieira.
Os prejuízos da seca, que já dura dois anos, serão
ainda maiores em 2013. O prognóstico é do superintendente do Escritório
Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), Fran Bezerra, que
anuncia a conclusão de um estudo sobre os efeitos da seca no Rio Grande
do Norte e no semiárido do Nordeste ainda para este ano. No Ceará, onde
um estudo semelhante foi elaborado pelo Etene, os prejuízos diretos,
considerando perda do rebanho e quebras de safra, chegaram a R$ 2,6
bilhões considerando as 13 últimas secas, de 1958 a 2012. Durante
entrevista concedida no intervalo do 19º Fórum Banco do Nordeste de
Desenvolvimento, em Fortaleza, no Ceará, Bezerra defendeu a difusão de
novas tecnologias para convivência com a seca, e explicou por que, na
sua avaliação, o semiárido nordestino ainda sofre tanto com a falta de
chuvas: “o governo e a sociedade tinham uma visão da seca diferente da
que temos hoje.”
O Etene estima que nas últimas 13 secas compreendidas entre 1958 e
2012, as perdas econômicas somente no Ceará alcançaram R$ 2,6 bilhões.
Qual a estimativa para o Nordeste e para o Rio Grande do Norte?
Nós vamos expandir um estudo elaborado inicialmente para o Ceará para
mensurar as perdas econômicas nos outros estados do Nordeste.
Pretendemos dentro dos próximos dois ou três meses, no máximo, divulgar
os resultados desse estudo.
Daria para divulgar os resultados parciais, para o RN?
Não, porque estamos na fase de coleta de dados, que é a fase mais trabalhosa.
Dá para dizer se as perdas no RN estariam no mesmo nível das no Ceará (R$ 2,6 bilhões em 13 secas)?
Bom, precisamos considerar qual a participação do RN na economia vis
a vis a participação do Ceará na economia. Há uma diferença de escala
aí. Mas como os dois tem economias relativamente parecidas e tem porções
no semiárido bastante representativas nos dois territórios, deve ser
proporcionalmente um reflexo parecido. Acredito que o Rio Grande do
Norte deve ter uma perda proporcionalmente parecida nesse período.
Em torno de R$ 2 bilhões?
Eu gostaria de não adiantar números, porque vai depender dessa proporcionalidade. Mas parecido sim.
Já dá para mensurar o impacto que a última seca teve no PIB do RN e da região e estimar qual será o impacto esse ano?
Essas mensurações são sempre estimativas, principalmente uma desse
tipo. Uma coisa é mensurar perdas diretas, como perda do rebanho, quebra
de safra. Outra é dimensionar os reflexos que a seca teve na indústria,
no comércio, na prestação de serviços, e até mesmo o efeito que a seca
teve sobre a renda. Nós também vamos tentar fazer essa estimativa. Como
ela depende da validação de uma metodologia, só teremos o resultado em
fevereiro de 2014. Essa pesquisa corre em paralelo.
Qual sua visão com relação aos efeitos da última seca? O pior já passou ou vem mais prejuízo por aí?
Bom, como o regime de chuvas desse ano também foi muito irregular e
praticamente já se encerrou, pelo menos na porção que vai até a Paraíba,
eu temo que este vá ser o ano mais difícil.
Este ano?
Este ano. Até porque ele traz os problemas de 2012. Ele herda todos
os prejuízos de 2012. Houve reposição hídrica nos reservatórios, mas não
significativa. Já tínhamos registrado no ano passado perdas
consideráveis, como a de parte do rebanho. Por isso temo que vá ser um
ano bastante difícil, com mais perdas.
Há um custo de recuperação da economia nordestina?
Há um custo e acho que é uma excelente oportunidade de os bancos,
governos estaduais e federal, e agências de fomento pensarem numa forma
dessa reestruturação se dar em bases adequadas. Há especialistas que
dizem que a pecuária bovina não é totalmente adequada em boa parte da
região semiárida. Tudo bem, eu não acredito em mudar por imposição. Isso
é um paradigma antigo. Hoje você tem que se apropriar da cultura e
mudar a partir da cultura que já está solidificada. Mas eu penso que nós
devemos trabalhar mais ainda um pouco da alteração dessa cultura. Vamos
repor o rebanho? Vamos, mas vamos repor com caprinos e ovinos, que tem
uma resistência muito grande às intempéries do tempo. Temos que
trabalhar mais com as tecnologias de convivência com a seca. Em vários
lugares do mundo há intempéries importantes e que nem por isso as
pessoas deixam de produzir.
Falamos agora há pouco que há sim um custo para os setores afetados
recuperarem as perdas. O Governo Federal tem lançado uma série de
programas de crédito para o produtor. Disponibilizar recursos é o mesmo
que garantir o acesso ao crédito?
Não digo que a questão do crédito está totalmente resolvida, por que
há uma demanda maior do que o volume de recursos existentes, mas
acredito que esteja equacionada. Agora o governo federal tem atacado em
outras frentes, basicamente de duas formas: uma é através dos
investimentos em infraestrutura, como a transposição do rio São
Francisco, e através de uma série de programas de menor porte e mais
difusos, como o que prevê a construção de cisternas. Precisamos
aprender a conviver melhor com esse fenômeno, como outras regiões já
fazem, como a Califórnia nos EUA – estado que é desértica, mas muito
rica.
Com relação ao crédito ofertado, o endividamento rural não chega a atrapalhar a concessão de crédito e amarrar a recuperação?
É, atrapalha na medida em que a pessoa precisa, pelas boas normas de
crédito, estar adimplentes. Mas eu creio que se houver algum entrave,
vai ser superado no curto e médio prazo.
Falta assistência técnica para orientar os produtores e assim evitar
que eles tenham prejuízos e se tornem, consequentemente, inadimplentes?
A questão da assistência técnica e a extensão rural são fundamentais
numa área como o Nordeste, porque permite a introdução e disseminação de
tecnologias entre os produtores. É fato que sobretudo na década de 90
houve na maioria dos estados do pais um certo descaso com a assistência
técnica e extensão rural. Alguns estados perderam muito. Outros perderam
menos. Geralmente eram duas entidades que existiam em cada estado, uma
voltada a pesquisa e outra, a assistência técnica e extensão. Alguns
estados ficaram só com a de pesquisa. Outros só com a de extensão.
Outros perderam quadros importantes nas duas. Mas eu penso que hoje
todos os estados estão de alguma forma repondo seus quantitativos ou
utilizando de profissionais disponíveis do mercado. O próprio governo
federal está tentando criar uma agência nacional de assistência técnica e
extensão rural para coordenar o trabalho de todas as entidades.
Há atividades no Rio Grande do Norte, se estimuladas, poderão acelerar essa recuperação?
Há sim. Sabemos que boa parte do semiárido está em cima de um solo
com muitas riquezas minerais, tanto os metálicos como não metálicos.
Essa atividade pode dar um novo ânimo. O turismo rural é outra
alternativa. É claro que em alguns lugares é mais fácil. O estado também
pode crescer mais na área de comércio e serviços, menos dependentes das
condições climáticas.
Em quanto tempo será possível recuperar as perdas, de uma maneira geral?
É difícil quantificar. Essa recuperação significa o quê? Voltar a ter
rebanho, a ter a mesma produção agrícola, ou é tentar modificar um
pouco a realidade, com novas tecnologias, com novas culturas. Mas
certamente vai ser um tempo longo. Não se pode esperar ter uma
recuperação desse nível em menos de seis, sete anos.
A seca que atravessamos, de fato, é a maior dos últimos 50 anos?
(Pausa para refletir sobre a pergunta). Bom, do ponto de vista das
consequências da seca, ainda há de se mensurar para definir se secas
anteriores forem maiores que essa ou não. Do ponto de vista, da previsão
pluviométrica média, certamente que não. E do ponto de vista social,
não também, porque hoje há mecanismos que garantem ao menos o consumo e o
abastecimento de água, que garanta a subsistência. Eu não me arriscaria
a dizer se essa seca é a maior dos últimos 40, 50 anos.
Por que a região Nordeste enfrenta secas há tanto tempo e ainda registra tantos prejuízos?
A seca, de fato, é um fenômeno climático conhecido... o governo e a
sociedade tinham uma visão da seca diferente da que temos hoje. No
passado, por exemplo, a visão que se tinha era de dotar a região de
capacidade de armazenamento hídrico. Isso foi importante. Não teríamos a
visão que temos hoje, se não tivéssemos pensado daquela forma no
passado. Com as tecnologias e infraestrutura que hoje temos estamos mais
preparados para pensar de uma forma diferente e evitar perdas tão
expressivas.