Produtores fazem fila à espera de
milho nas Unidades Armazenadoras da Companhia Nacional de Abastecimento
no Rio Grande do Norte (Conab). Na unidade de Assú, que atende 20
municípios, o estoque acabou e só deverá ser normalizado em sete dias. O
embarque, a partir de Mato Grosso, Sul do país, foi autorizado esta
semana. Para receber o milho, produtores chegam a dormir na porta da
unidade e recebem fichas. O produto é usado para alimentação animal e é
vendido a preço subsidiado pela Conab.
Em outros armazéns
da Companhia, o volume disponível caiu e há demora na reposição do
estoque, por causa de problemas logísticos. As operações de transporte
de outros estados para o RN estão mais lentas em razão da dificuldade
enfrentada pelas transportadoras contratadas para fazer o serviço.
Segundo José Onildo, gerente da unidade de Assú, além dos 1.260
produtores que compram milho a preço subsidiado no município, há outros
850 produtores que se cadastraram e ainda não foram 'contemplados'. A
situação poderia ser ainda pior. A unidade foi desmembrada há poucos
meses. Antes, atendia quase 30 municípios.
O problema de
desabastecimento, afirma a Federação da Agropecuária do Rio Grande do
Norte, é generalizado. "Os depósitos estão zerados", afirma José Vieira,
presidente da Federação.
Na unidade de Caicó, que atende
outros 24 municípios, também não há milho. As 102,3 toneladas enviadas
esta semana para a central (e que ainda não chegaram) não são
suficientes para atender nem 8% dos produtores cadastrados, afirma João
dos Santos, gerente da unidade.
A situação é semelhante à
enfrentada em Assú. Dois mil produtores conseguem comprar milho a preço
subsidiado. Outros 800 não conseguem porque não há o suficiente.
"Acredito que o número seja ainda maior. Muitos não estão sendo
atendidos. Só Deus e eu sabemos o que estamos passando", afirma João. O
gerente já decidiu como dividirá as 102,3 toneladas que chegarão na
próxima semana. "Vou estabelecer uma cota única. Quem deveria receber 80
sacas, vai levar só 10. Assim dá para atender mais produtores". Apesar
da estratégia, só 170 serão atendidos. "Entrego à Deus. Na hora, Ele vai
me guiar e eu vou saber dividir o milho".
O problema não
se resume ao interior do estado. Na unidade Caiapós, em Natal, que
atende mais de 30 municípios, a venda de milho foi suspensa na última
terça-feira, informou Zozimara Silva Santos, gerente. Só quem pagou com
antecedência pode retirar o milho que ainda resta. As vendas só serão
retomadas quando o estoque for resposto, afirma Zozimara. O que só deve
ocorrer na primeira quinzena de setembro. "Vamos esperar a carreta".
Mais de 1,5 mil produtores estão cadastrados na unidade. A fila de
espera é, no entanto, menor que a das outras unidades. "Acredito que o
número de produtores que não foram contemplados não chegue a 500",
estima a gerente.
O superintendente da Conab/RN, João
Lúcio, não confirma a existência de filas de espera, mas admite que "a
demanda supera em 100% a oferta". Ele confirma o embarque de milho para
o RN esta semana, mas diz não saber quando a situação se normalizará. A
greve dos caminhoneiros, uma das causas apontadas, acabou e o problema
não foi solucionado. Os estoques no estado estão baixos, segundo João
Lúcio, porque o abastecimento ainda está irregular. A Conab anunciou
ontem novos embarques para o estado.
Novas remessas são esperadas no RN
O
governo federal vai autorizar na próxima sexta-feira (24) o embarque de
mais 30 mil toneladas de milho para o Rio Grande do Norte. O volume não
considera o milho já autorizado e que começou a ser embarcado esta
semana. A informação é da Federação da Agropecuária do RN (Faern). A
Companhia Nacional de Abastecimento embarcou ontem (22) 287 toneladas de
milho para João Câmara, Umarizal, Natal, Currais Novos e Caicó.
A
companhia já havia embarcado 168 toneladas para Umarizal e Natal na
última terça-feira e 412 toneladas para João Câmara, Natal, Caicó e
Mossoró na última segunda. "O problema é que os caminhoneiros esperam
atingir a capacidade máxima para conseguir preços de frete mais
atrativos", afirma o superintendente da companhia no estado, João Lúcio.
"Transportar milho para o RN não seria vantajoso. Foi o que os
caminhoneiros disseram aos produtores", completa José Vieira, presidente
da Faern.