A população de caprinos no país
cresceu nos últimos anos, e de forma autônoma, pois foram poucos os
programas de expansão do rebanho, ficando a ampliação do volume de
animais quase que por conta dos criadores, que tem a seu favor apenas um
leite mais valorizado que o leite bovino, e uma carne também mais
cotada, porém de menor expansão, sendo que neste aspecto, em poucas
ocasiões a demanda foi além de um consumo local, devido à falta de
estrutura produtiva organizada.
O último Censo
Agropecuário de 2006 (IBGE) mostrou que o rebanho caprino brasileiro era
de cerca de 7,1 milhões de cabeças. Este rebanho passou para um total
de 9,3 milhões de animais aproximadamente, segundo a Pesquisa Pecuária
Municipal de 2010 (IBGE), o que totaliza uma elevação de 2,2 milhões de
caprinos, dado que deve ser analisado com cautela, devido às diferenças
de metodologias e o potencial de imprecisão das pesquisas, mas que
revelam o crescimento real do rebanho, e muito devido as suas qualidades
zootécnicas de resistência extrema e rusticidade, que fazem dele um
animal ideal para criadores com poucos recursos alimentares e de água, o
que por si só explica o fato de que cerca de 90% do rebanho se encontre
na região nordeste brasileira, servindo como base alimentar de muitas
comunidades, tanto na oferta de leite, quanto de carne, sendo também um
importante propulsor de negócios, ainda que sub aproveitado.
Este
dado pode ser desdobrado na informação de que 87% dos estabelecimentos
relacionados como criadores de cabras, uma soma de cerca de 250 mil
unidades familiares e mais de um milhão de pessoas diretamente
relacionadas, mantém em torno de 25 caprinos por criador, em média. Com
este volume de animais, raramente se observa um grande criador de cabras
na região, e por isso há uma série de implicações nesta estrutura, que
afetam negativamente o processo de inclusão dos caprinos como um item
relevante da economia na região do país.
O caprino tem um
espaço já definido no Brasil, e mais ainda no nordeste, para o consumo
de subsistência e o segmento de culinária regional, que hoje mata mais
ovinos para servir como “bode” numa proporção de aproximadamente quatro
ovinos para um caprino abatido, segundo pesquisas não oficiais, havendo
ainda outra ponta de consumo, a culinária italiana e espanhola, que tem
na perna de cabrito uma das iguarias mais procuradas, mas que no Brasil
tem na perna de cordeiro o substituto de ocasião por falta de animais.
Somente
esta demanda seria suficiente para anos e anos de produção nacional,
mas a tendência ainda assim é de ampliação do consumo, pois a carne
caprina é uma das carnes de melhor qualidade nutritiva do mundo, com
índices de gordura entre 50-65% inferiores àqueles encontrados em cortes
bovinos similares e conteúdo proteico semelhante, apresentando ainda
42-59 % menos gordura que a carne ovina, com teores de gordura saturada
em torno de 40% inferior à de galinha (sem pele), sendo bastante
reduzido quando comparado ainda com bovinos (850%); ovinos (900%) e
suínos (1.100%). As qualidades da carne é que fazem com que o desafio da
produção seja respondido com ações bem coordenadas.
O que
se busca neste momento é dar outro salto neste patamar de
funcionalidade do caprino, para que se converta o grande rebanho que o
país possui hoje, o décimo maior do mundo (FAO, 2009) em um bem
econômico viável para médios e grandes criadores e no interior deste
desafio se encontra a disseminação e consolidação de caprinos
especializados e mais eficazes para a produção de carne. A
caprinocultura de corte tem a frente um grande desafio, e ao que parece,
a raça Boer será uma das responsáveis por transformar um segmento da
subsistência familiar em um setor econômico de fato, com maior índice de
geração de emprego e renda. Sem se esquecer da raça Anglonubiana, que
vive um momento de crescimento expressivo.
No estado de
Pernambuco, na cidade de Parnamirim (é isso mesmo, Parnamirim/PE e não
RN), o abate de caprinos e ovinos na área da seca ajudará produtores com
as características citadas acima, e se o programa se tornar contínuo,
será um forte indutor do crescimento do setor. Foram abatidos os
primeiros 100 animais das 150 mil cabeças previstas, no Aprisco
Abatedouro e Frigorífico da Cooperativa Central Agrícola do Nordeste -
COCANE. A operação marcou o lançamento regional de uma ação do Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA), na modalidade compra direta, com
investimentos na ordem de R$ 30 milhões, somente em Pernambuco. No
Estado, vão ser beneficiados 7,5 mil agricultores familiares com
rebanhos de até 50 animais, atingidos pela seca.
O
produtor vai receber R$ 6,65 pelo quilo do animal vivo a ser adquirido
pela CONAB. A iniciativa, pioneira na área de abrangência da SUDENE, foi
conduzida pelo secretário de Agricultura e Reforma Agrária, Ranilson
Ramos, juntamente com a Secretária Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional, do Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome,
Maya Takagi. O programa, previsto para ser executado até o final do ano,
poderá ser estendido.
O secretário Ranilson Ramos lembrou
que o PAA Especial Caprinos e Ovinos foi proposto à presidente Dilma
Rousseff pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, durante a
primeira reunião com os governadores dos Estados do Nordeste para
discutir ações de convivência com a seca. A logística vai funcionar de
acordo com as seguintes competências: o Governo entra com o transporte,
identificação dos criadores e cadastramento dos animais, por meio da
ADAGRO; o município fica responsável pela organização da estrutura dos
currais e recebimento dos rebanhos, enquanto que a compra dos animais e
contratação dos abatedouros, para abate e distribuição da carne às
entidades sociais, vai ser de responsabilidade da CONAB. Já estão aptos a
participar do programa os abatedouros de Afogados da Ingazeira/PE,
Bezerros/PE, Floresta/PE e Parnamirim/PE.
Esta iniciativa
se soma à produção normal dos criadores, que inclusive em outros estados
abastece a indústria, mesmo que de forma limitada, mas que está
crescendo de maneira gradual e constante. Um dos exemplos pode ser visto
no Frigorífico Baby Bode, situado em Feira de Santana/BA que abate
cerca de 2 mil animais ao mês, sendo 20% deles caprinos, adquiridos num
sistema de parceria com o Projeto Riocon, um empreendimento dos
diretores da Baby Bode criado para desenvolver as cadeias produtivas e
assim adquirir e finalizar animais para o abate do frigorífico, por meio
de projetos de integração com pequenos e médios produtores da região.
Segundo
a Baby Bode, atualmente o volume de abates é maior em relação aos
ovinos por uma questão de mercado, pois a produção é distribuída em
praças da Região Sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo. Neste
contexto de ação, o que está em andamento são projetos de melhoria
genética de rebanhos que estão adotando a genética Boer para produzir
cabritos com mais peso, precocidade e melhor carcaça.
O diferencial da genética Boer
Introduzidos
no Brasil há mais ou menos 15 anos, os caprinos Boer passam por boa
fase, pois a procura pela carne caprina tem sido grande em todo país, o
que qualificou e valorizou a raça. Esta é a afirmação de Marcelo Abdon,
presidente da ABCBOER, entidade que congrega os esforços de divulgação
da raça. Para ele, os motivos para o crescimento são claros, e se
colocam nas características voltadas para produção comercial. “Os
pecuaristas que trabalham com caprinos viram que para produzir carne é
necessário usar reprodutores da raça Boer, por ser o único caprino no
mundo especializado para corte, os animais atingem o peso de abate muito
rápido, com excelente carcaça, o que fez com que criadores que usavam
outras raças passassem a usar estes reprodutores”, explica Marcelo,
acrescentando que a ABCBOER tem feito o possível para divulgar as
características destes caprinos, que são animais relativamente novos no
país, mas que tem se expandido e hoje são criados em todas as regiões do
Brasil, com domínio cada vez mais aperfeiçoado.
Um dos
exemplos da expansão da raça no país, e mais ainda na região nordeste,
ocorreu na região de Juazeiro/BA, no Vale do São Francisco, onde a
ABCBOER realizou, no final de abril, a 12ª Exposição Nacional da Raça,
localidade no qual estão sendo formados vários projetos para produzir
carne de caprinos, alguns já com mais de 5 mil animais, e que aos poucos
se expandem e ganham consistência. A carne caprina, para se tornar a
realidade que os produtores desejam, ainda carece de grandes
investimentos e uma política setorial mais efetiva, que seja capaz de
integrar esforços de criadores, frigoríficos e sistemas de distribuição,
para fazer com a produção de carne caprina ocupe seu lugar na economia
do agronegócio.
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