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Por Roberto Simões
Nas últimas três décadas, deixamos de
ser importadores de alimentos e nos tornamos grandes exportadores. Muito
graças ao trabalho brasileiro de pesquisa e desenvolvimento de
tecnologia, que o produtor soube aproveitar gerando aumento da produção,
sem aumento da área utilizada. A agricultura mineira hoje é forte e
consolidada e permanecerá assim, pois contamos com uma enorme variedade
de produtos que continuarão garantindo a posição de destaque de Minas
Gerais na agricultura brasileira e mundial.
Nosso grande desafio para o futuro será
suprir uma imensa demanda por alimentos ocasionada pelo aumento
populacional. Atualmente, o mundo já conta com quase um bilhão de
famintos.
Em 2032, a Terra chegará a 8,3 bilhões de
habitantes, 236 milhões de brasileiros. Precisaremos produzir muito
mais. Para se ter uma ideia em um prazo bem menor, segundo a ONU
(Organização das Nações Unidas), até 2020 a demanda mundial por
alimentos crescerá 20% e o Brasil atenderá 40% dessa demanda.
Somos um dos poucos países do mundo com
condições de crescer exponencialmente sua produção. Isso muito pouco se
deve à disponibilidade de novas áreas que ainda temos, sendo que as
tecnologias é que têm sido e serão fundamentais para aumentarmos a
produtividade.
Será preciso investir em conhecimento,
fortalecendo os centros de pesquisa e as universidades e garantindo a
transferência dos resultados alcançados, das prateleiras acadêmicas às
empresas e ao campo. O atual governo fala em retomar a extensão rural, o
que seria muito importante; fortalecer pesquisa, extensão e assistência
técnica continuada aos produtores. Será necessário investir também na
capacitação de mão de obra para operar o maquinário em processos cada
vez mais automatizados e de alta tecnologia.
A marcha tem que seguir na direção que
temos trilhado, com certificação, demarcação de origem e produtos cada
vez mais acabados. Entretanto, isso não será nunca a totalidade ou mesmo
a maior parte da nossa oferta, até porque seria impossível processar
volumes tão grandes de produção.
Precisamos apagar de vez a ideia de que é
uma vergonha exportarmos commodities, que hoje agregam tanta tecnologia
e pesquisa que chegam a superar muitos setores tidos como “modernos”.
Além disso, enquanto algumas áreas produzem a partir de 90% de produtos
importados, a agricultura funciona exatamente no inverso, importando
menos de 10% do que utiliza para sua produção. É uma contribuição enorme
para a balança comercial do país.
Para esses próximos 20 anos, a
agricultura de alta precisão, de baixo carbono e a irrigação serão
essenciais para o aumento da produtividade com menor impacto no meio
ambiente. Outras técnicas importantes para essa agricultura sustentável
serão a do plantio direto, que já tem se espalhado em todo o Estado, e a
integração lavoura/pecuária/florestas. São iniciativas desenvolvidas
aqui, muito bem vindas e que, certamente, serão muito vitoriosas.
De nada adiantará, entretanto,
produzirmos mais e melhor se não houver como transportar, armazenar ou
exportar essa enorme produção. Será preciso suplantar gargalos diversos,
especialmente do ponto de vista da infraestrutura.
Isso inclui investimentos em armazéns,
estradas, ferrovias, hidrovias e portos, além de maior utilização de
rotas de exportação pelo Norte do país, desafogando os portos de Santos e
Paranaguá. Para acompanhar essa evolução necessária, será preciso
também que se estabeleça uma política agrícola anticíclica, desenvolvida
com metas e objetivos que retirem o caráter de sazonalidade da
agricultura. Será fundamental uma política efetiva sobre questões de
crédito, estoques reguladores, preços mínimos e seguros, além de ajustes
do ponto de vista da tributação e de legislações exageradas, que muitas
vezes restringem oportunidades de desenvolvimento.
Em linhas gerais, o que a agricultura e
todos os demais setores econômicos de Minas Gerais precisam para
chegarem fortes a 2032 é de uma mentalidade desenvolvimentista mais
agressiva e de uma política prática com foco no resultado, visando
retomarmos o lugar de liderança na economia brasileira.
Precisamos impor nossa posição no cenário
nacional mais uma vez, rompendo definitivamente com a ideia de que
mineiro trabalha quieto. Vocação existe,tecnologia e gente boa de
serviço também temos. Falta vontade política e estratégia. Se quisermos
uma agricultura de primeiro mundo para daqui 20 anos, faremos.
*Presidente da Federação de
Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (FAEMG) e Vice-Presidente da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Artigo publicado na edição comemorativa dos 80 anos do Diário do Comércio
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