Artigos
| Cereais, Fibras e Oleaginosas 08/11
Por Alysson Paolinelli e Cesário Ramalho
Em busca de fontes potenciais
para o crescimento da produção de milho no Brasil, a Abramilho
encomendou um estudo para identificar oportunidades de crescimento via
1) áreas novas; 2) segundas safras; 3) substituição de pastagens e 4)
aumento de produtividade
Como não é possível antecipar que tipos
de lavouras tomarão os espaços futuros, que dependerá de preços
relativos dos vários produtos, foi necessário levantar as
disponibilidades gerais e esperar que, com incentivos públicos e ações
privadas, a cultura do milho sobressaia perante as demais.
Embora nós, que trabalhamos com a
agricultura, sentíssemos que estávamos perto de atingir os limites de
expansão horizontal - áreas novas - não esperávamos estar virtualmente
esgotados, especialmente nos Cerrados da região central, fonte principal
de crescimento nos últimos 30 anos e de esperanças futuras. Nossos
estudos revelaram que não resta mais do que 7 a 8 milhões de hectares
(ha) de cerrado num total de 192 milhões, dos quais 88 milhões estão
ocupados por pastagens e lavouras e mais de 100 milhões de hectares com
reservas e áreas urbanas.
Se compararmos ao nível de expansão dos
últimos cinco anos - 1,5 milhão ha/ano, parte originário de pastagens -,
em cerca de cinco anos as áreas dos cerrados estarão esgotadas.
Desnecessário dizer que nas demais regiões agrícolas do país - Sul,
Sudeste e Nordeste - não resta mais espaço e nos biomas Amazônia e
Pantanal não é tecnicamente possível produzir grãos mecanizados.
Infelizmente, a área agrícola do Brasil é
bem menor do que supõe o senso comum, inclusive pelas exigências de
reservas legais nas propriedades, que variam de 20% nos cerrados, 35% na
pré-Amazônia e 80% na Amazônia, além das Áreas de Preservação
Permanente (APP). Dos 851 milhões de hectares de nosso território, temos
86 milhões com pastagens plantadas (fora da Amazônia), 60 milhões com
lavouras temporárias, inclusive cana-de-açúcar; 7 milhões com lavouras
permanentes, principalmente frutas e café; 5 milhões com silvicultura; e
2 milhões com hortaliças, que somam 160 milhões de hectares, ou apenas
19% de todo o território brasileiro.
Mesmo se adicionarmos os 7 milhões a 8
milhões de hectares ainda teoricamente disponíveis nos cerrados,
chegaríamos a 168 milhões, o que representa somente 20% do território
brasileiro. Muito pouco e ponto final. A área total de lavouras - 82
milhões de ha - é menor do que a de países como Estados Unidos, China,
Índia e União Europeia, todas também exauridas. Alguns Estados
brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro, têm áreas urbanas e outras
não agrícolas superiores a suas áreas agrícolas.
O mundo requererá mais e mais alimentos no futuro próximo pela entrada no mercado de 3,5 bilhões de pessoas
E não somos "pequenos" em área somente
porque um segmento da sociedade tenta controlar nossa expansão; somos
"pequenos", acima de tudo, porque a ciência agronômica assim nos impõe:
não plantamos na Amazônia por excesso de chuvas; não expandimos no
Nordeste por deficiência das mesmas chuvas. São as leis naturais que nos
restringem, acima das leis dos homens, como se Deus nos impusesse um
limite de ocupação de 20%, de acordo com sua vontade e independente dos
burocratas.
No entanto, mesmo diante desse cenário as
perspectivas de crescimento agrícola por meio de aumento de
produtividade em geral são fantásticas, graças ao nosso clima tropical e
a tecnologia agrícola para ele desenvolvida nos últimos anos.
Estamos vendo os plantios de segunda
safra (chamadas de "safrinhas" quando eram pequenas) crescer
rapidamente, especialmente no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. No
Paraná já colhem três safras por ano em algumas áreas, assim como há
municípios no Centro-Oeste onde já se utilizam 70% da área agrícola em
segunda safra, tendência promissora e somente possível no nosso país
tropical. A irrigação poderá prover pelo menos mais 10 milhões de ha,
principalmente no Nordeste semiárido, com duas a três safras anuais ou
uma permanente de alta renda.
Há, entretanto, uma lacuna tecnológica a
ser suprida por órgãos de pesquisas públicos e privados, por meio da
criação de cultivares adequados aos limites impostos pelos regimes de
chuvas e temperaturas regionais, além de resistentes a pragas e doenças
locais. Por outro lado, os preços relativos de grãos e carnes têm levado
à substituição de pastagens em favor de plantio de grãos,
principalmente no cerrado, tendência que se manterá caso esses preços
persistam. Diante dessa situação, levanta-se a questão: de onde virão
nossas carnes bovinas futuramente? Virão de enormes ganhos potenciais de
produtividade em termos de lotação cabeça/ha, índice que varia de 0,8 a
2,5 nas principais regiões produtoras, que poderão liberar milhões de
hectares para plantio de grãos sem prejuízo da produção de carnes.
Finalmente, no caso específico de
crescimento de produtividade, o milho assume papel emblemático. Costumam
conviver no mesmo espaço físico produtores com rendimentos iguais ou
até superiores aos maiores do mundo - 12 mil kg/hectares - com outros de
rendimentos inexpressivos, 3 mil a 4 mil kg/ha. Isso revela que
tecnologia existe, faltando, porém, extensão e assistência técnica, que
lamentavelmente foram abandonadas no país nos últimos anos.
O mundo requererá mais e mais alimentos
no futuro próximo, especialmente pela entrada no mercado de 3,5 bilhões
de pessoas - metade da população mundial - que até então não tinha
renda. O crescimento agrícola brasileiro é promissor, mas dependeremos
de tecnologia, tecnologia e tecnologia. Preparemo-nos, pois.
*Alysson Paolinelli é presidente-executivo da Abramilho e ex-Ministro da Agricultura*Cesário Ramalho é vice-presidente da Abramilho e presidente da Sociedade Rural Brasileira
Fonte: Valor
Nenhum comentário:
Postar um comentário
faça seu comentário