Diferentemente das lideranças
ruralistas raivosas, que brandiam as espingardas para evitar a invasão
de suas terras, a senadora por Tocantins Kátia Abreu, presidente da
Confederação Nacional da Agricultura, provou esta semana que é possível
vencer as mais duras batalhas sem disparar um único tiro.
O
lançamento na última terça-feira do Plano Safra 2013/2014, em Brasília,
e pela primeira vez de um projeto especificamente para o Nordeste, que
recolocou as bases do endividamento rural na faixa dos produtores não
familiares, mostrou que o Brasil tem uma líder no agronegócio.
Para
o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte, José
Vieira, a dimensão da liderança de Kátia Abreu é hoje tão exponencial
que não seria exagero nenhum dividir a recente história das lutas do
agronegócio brasileiro em antes e depois da senadora do Tocantins.
“Sou
suspeito para falar, mas a liderança da senadora e a interlocução dela
com a presidente Dilma Rousseff nos possibilita ver hoje, pela primeira
vez em muito tempo, uma luz no final do túnel para o semiárido
destroçado pela seca”, comentou.
José Vieira, considerado
uma grata e boa surpresa no rol das novíssimas lideranças do agronegócio
num estado onde mais de 90% do território é semiárido, pode ter uma
modesta colaboração no anúncio do Plano Safra do Nordeste ao lado das
demais federações da região.
A Expedição Retratos da Seca,
organizada em fevereiro deste ano por Vieira e que rodou mais de 1.100
km de ônibus pelas mais castigadas regiões produtoras do estado, levando
cerca de 30 jornalistas, inclusive de publicações nacionais, gerou um
retorno de mídia jamais visto no estado.
Inspirado nos
passos do secretário da Agricultura Júnior Teixeira, quando este ainda
ocupava a presidência da Associação Norte-rio-grandense dos Criadores
(Anorc) e que às vésperas da Festa do Boi do ano passado viajou com uma
enxuta equipe de tevê documentando a seca no campo, Vieira produziu uma
ação que transpôs as fronteiras.
Com simplicidade disse
aos jornalistas: “Vocês olhem, perguntem, investiguem e tirem suas
conclusões, não estamos aqui para impor nada, não queremos manipular e
nem orientar a opinião de vocês, apenas organizamos a expedição”.
O
resultado – se fosse contabilizado em minutos ou centímetros de coluna
ganhos de graça em jornais – representou um respeitável retorno para a
Faern, cuja sigla no passado já foi avassalada por denúncias que
destruíram a sua credibilidade.
“Esse legado negativo não
existe mais e a liderança da senadora Kátia Abreu recolocou o
agronegócio brasileiro na condição de principal alternativa para a
economia do país”, diz Vieira, cuja primeira decisão à frente da Faern
foi abrir mão do salário que lhe caberia como presidente da entidade.
Isso
é apenas um detalhe num ambiente com novas influências. Depois do
anúncio do Plano Safra, numa casa de eventos de Brasília, a senadora
Kátia Abreu reuniu as comitivas dos estados que participaram da
solenidade na Esplanada dos Ministérios para fazer um balanço dos
resultados. Sentando numa mesa bem em frente do palco,Vieira ouviu da
senadora frases do tipo: “O agronegócio brasileiro é aquela mocinha
nova e bonita que chega à cidadezinha, despertando o ciúme das outras”.
E,
para quem achava que haveria ali uma comemoração pelos mais de R$ 300
bilhões liberados pelo Governo Federal para o Plano Safra, Vieira
presenciou uma manifestação bastante diferente. A de que é preciso
sempre mais trabalho, traduzindo a visão de Kátia Abreu de que a
política agrícola do passado se resumia a uma disputa por anúncios de
mais recursos, sem que os instrumentos estivessem adequados à realidade
da produção. Agora, não.
Sem se interpor ideologicamente
ao governo, a CNA quer limpar algumas pautas e pôr fim às infindáveis
prorrogações de dívidas, impondo-se pela qualidade e pelo poderio de sua
organização. “É muito bom sabermos que um estado como o Rio Grande do
Norte, onde ainda há muito a se fazer, pode ajudar de alguma maneira
nesse esforço gigantesco, desencadeado por estados muito mais poderosos,
para encontrar suas grandes vocações e também ser muito bom e eficiente
no que faz”, diz José Vieira.
Conheça melhor as medidas do governo para o semiárido
Entre
outras medidas, o Plano Safra prevê a suspensão das execuções das
dívidas dos produtores da região até o fim do ano que vem. Também será
concedido desconto de até 85% para a liquidação de operações de crédito
contratadas até 2006 com recursos do Fundo Constitucional do Nordeste
(FNE) ou do Tesouro Nacional.
Além disso, será criada uma
linha com recursos do FNE para recomposição de dívidas contratadas até
2006, com valor original de até R$ 200 mil, em até dez anos. Já as
operações contratadas a partir de 2007 e que estavam inadimplentes em
dezembro de 2011 serão renegociadas em até dez anos, com três anos de
carência para o início do pagamento.
O plano, cujo
objetivo é permitir que o Nordeste conviva com a seca, complementa todas
as ações que o governo federal tem implementado visando à segurança
hídrica da região. A presidente Dilma Rousseff enfatizou, durante o
lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2013/2014, que o compromisso com
a população do Semiárido e com os produtores da região é “irrestrito”.
Segundo
Dilma, o semiárido enfrenta uma situação grave e que, com um plano
safra específico para a região, a segurança produtiva vai aumentar e a
estrutura dos produtores rurais durante a estiagem também melhorará.
“Temos tecnologia, experiência e, sobretudo, a vontade política de
responder como o Brasil convive com a seca na região do Semiárido”,
afirmou.
Uma das principais ações do plano será o estímulo
à construção de silos para armazenagem de alimentos para que os
pecuaristas possam alimentar seus rebanhos na época da seca. Atualmente,
a escassez de milho, principal alimento dos animais, leva o governo a
buscar o grão em outros estados e até a importar de países vizinhos, com
um alto custo de deslocamento.
Fonte: O Jornal de Hoje
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