| Assuntos econômicos,Trabalho e previdência
O agronegócio salva a pátria
Por Ana Malvestio* e Lara Moraes**
Respondendo por 22% do PIB e 43% do
superávit da balança comercial, o agronegócio desempenha nesse contexto
papel fundamental e chega a ser apontado por especialistas como o
salvador da pátria
A economia brasileira passa por um momento
delicado segundo a avaliação de analistas do mercado. A
imprevisibilidade em relação à futura política econômica e a economia
com números nada animadores contribuem para criar expectativas pouco
otimistas sobre investimentos e consumo. O Produto Interno Bruto (PIB) e
a inflação são índices que chamam a atenção dos analistas. O Banco
Central já indicou que haverá baixo crescimento econômico em 2014 e a
inflação deve encerrar o ano em 6,25%.
Respondendo por 22% do PIB e 43% do superávit da
balança comercial, o agronegócio desempenha nesse contexto papel
fundamental e chega a ser apontado por especialistas como o salvador da
pátria. No acumulado de janeiro a maio deste ano, a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) registrou crescimento de 1,79% do
PIB do agronegócio, que inclui atividades antes da porteira (insumos
agrícolas), dentro da porteira (agricultura e pecuária) e depois da
porteira (agroindústria).
Se for considerado somente o setor primário,
dentro da porteira, o crescimento no período foi de 3,49%. O desempenho
do agronegócio ganha ainda mais destaque quando comparado ao do PIB, que
nos cinco primeiros meses do ano cresceu apenas 0,58%, segundo
estimativas do Banco Central.
Quando se trata de emprego e criação de postos
formais de trabalho, o agronegócio se mostra ainda mais relevante. De
acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), esse
foi o setor da economia que mais empregou com carteira assinada no
primeiro semestre do ano. Cerca de 20% dos empregos gerados tiveram
origem no agronegócio. Isso significa que, a cada cinco postos formais
criados, um estava relacionado à atividade agrícola e pecuária.
No comércio internacional, os dados não são muito
bons para o Brasil de forma geral, mas, mesmo assim, o agronegócio
consegue se sair melhor. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (Mdic) registrou queda nas exportações, em torno de
3,46%. O agronegócio acompanhou a tendência, mas com recuo um pouco
menor, de 2,20%.
Os principais fatores que levaram o setor a ganhar
mais destaque na economia e a trazer contribuições positivas para o
país neste momento de baixo crescimento foram a alta do dólar, o alto
volume de produção e os bons preços de alguns produtos.
Como o Brasil tem alta representatividade nas
exportações de muitos dos setores do agronegócio, posicionado nas
primeiras colocações do ranking mundial, a alta do dólar elevou o
faturamento das exportações. A taxa de câmbio, que começou o ano em R$
2,38/US$, ficou até agora sempre acima de R$ 2,22/US$ e apresenta
tendência de alta, chegando a superar, recentemente, os R$ 2,50/US$.
Alguns produtos alcançaram boas cotações. Â o
caso da carne bovina, após os patamares recordes registrados no preço do
boi, em torno de R$ 127 por arroba; do café arábica, que teve
valorização de aproximadamente 50% por causa da quebra de safra; e da
soja, que, apesar de não registrar picos de preços, conseguiu manter bom
nível de remuneração em virtude da demanda internacional aquecida.
É evidente que houve desvalorização de algumas
culturas ao longo do ano, a exemplo do algodão e o milho. No geral,
porém, como a produção agropecuária continuou elevada, o aumento da
venda de produtos minimizou os efeitos da queda dos preços. A produção
de grãos, por exemplo, registrou alta de 2,6% e, segundo a Companhia
Nacional de Abastecimento, deve chegar a 193 milhões de toneladas na
safra 2013/2014. A pecuária (carne suína, bovina e frango) também
manteve bons níveis de produção.
Os números demonstram que o peso do agronegócio na
economia brasileira é indiscutível e que, neste ano, a sua importância
ficou ainda mais evidente para o crescimento do país. Voltar as atenções
para o setor deve estar no plano do governo federal. Temas como
tributação, legislação, infraestrutura e crédito precisam fazer parte de
uma política agrícola baseada em estratégias de longo prazo. Está claro
que fortalecer o agronegócio não beneficia somente uma classe, mas o
Brasil inteiro.
* Ana Malvestio (foto) é Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas
** Lara Moraes é Mestre em economia pela Unesp/Araraquara, analista sênior do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio
Fonte: Diário do Comércio
Nenhum comentário:
Postar um comentário
faça seu comentário