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Por Kátia Abreu
As críticas à gestão atual do Incra são nada mais que um lamento de nostálgicos que perderam sua razão de ser
O latifúndio é o passado. A moderna empresa rural, o presente e o futuro.
O latifúndio corresponde a um Brasil
superado, que se baseava em terras improdutivas, baixa tecnologia,
ausência de conhecimento na utilização da terra, desrespeito à natureza,
condições muitas vezes subumanas de trabalho e em formas de coronelismo
político.
A moderna empresa agrícola é de alta
produtividade, com uso intensivo de tecnologia, aplicação do
conhecimento na utilização da terra, respeito à natureza, observância de
condições humanas de trabalho e respeito ao Estado de Direito.
Querer confundir as duas coisas não
apenas revela desconhecimento, mas, sobretudo, má fé, baseada em
objetivos mais propriamente políticos do que tecnológicos. Justificar a
reforma agrária como uma suposta luta contra o latifúndio ou o
agronegócio significa, na verdade, combater moinhos de vento.
O modelo ainda vigente para os ideólogos
da terra, denominação que abriga tanto intelectuais engajados quanto os
ditos movimentos sociais e organizações da Igreja, corresponde a um
mundo que não mais existe. Neste quesito, as críticas à gestão atual do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) são nada
mais do que um lamento de nostálgicos que perderam a sua razão de ser.
Uma política racional de tratamento da
questão passa pela qualificação dos assentamentos existentes, com
tecnologia, infraestrutura, conhecimento e visão de mercado. Não pela
criação de novas favelas rurais.
Os próprios relatórios do Incra mostram
as dificuldades da passagem do antigo para o novo modelo. De 1994 a
2011, foram assentadas 1.235.130 famílias. Ocorre que, hoje, o Brasil
possui 931.730 famílias assentadas. Logo, 303.400 perderam-se no meio do
caminho. Para onde foram? Será que nem elas suportaram mais as
condições de vida nos assentamentos, onde ficaram subjugadas pelos
movimentos sociais?
É importante lembrar que os agricultores
familiares possuem títulos de propriedade, acesso a financiamentos
governamentais e bancários sob condições especiais e estão voltados para
uma economia de mercado. Vivem na segurança jurídica.
Segundo o Censo Agropecuário, a área
média da agricultura familiar é de 18,4 hectares. Já a área média dos
assentamentos, considerando 1.235.130 famílias que ocupariam 87.559.858
hectares, seria bem superior a dos agricultores familiares, totalizando
77,5 hectares por família.
Ora, a produtividade dos assentamentos é
pífia, muito abaixo da média nacional. Nem de longe se iguala a dos
agricultores familiares. Alguma coisa está errada e precisa ser mudada.
Convém atentar para um fato da maior
importância: os assentados não possuem direito à propriedade no sentido
estrito, o que só pode ocorrer quando os assentamentos são emancipados.
Vivem na insegurança. Quem é dono de sua terra sente-se ainda mais
responsável em relação a si mesmo e à sua família.
Se os assentados não usufruem da
propriedade privada, eles terminam reféns de uma nova forma de
clientelismo político, dita “progressista” e conduzida por grupos que se
declaram seus representantes.
A política do Incra não tem sido, até agora, a de emancipação dos assentamentos, que deveria ser o seu caminho.
Com efeito, o Estatuto da Terra prevê o
fim do estabelecimento da intervenção estatal nos assentamentos. O
artigo 68 estipula: “A emancipação do núcleo ocorrerá quando este tiver
condições de vida autônoma, e será declarada por ato do órgão
competente, observados os preceitos legais e regulamentares”.
Em consequência, uma política coerente
de reforma agrária deveria ter como objetivo a emancipação dos
assentados, que se tornariam, assim, cidadãos de pleno direito. Seriam
convertidos em novos agricultores familiares, cidadãos não tutelados e
livres em suas decisões.
*KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD/TO) e
presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil),
escreve aos sábados na Folha de São Paulo
Leia o artigo completo: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/89307-entre-o-passado-e-o-futuro.shtml
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