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Por Kátia Abreu*
A China impressiona. E a primeira boa
impressão que tive, em recente visita àquela potência econômica, foi a
de que os chineses são eficientes, objetivos, profissionais, aceitam
pautas desafiadoras e estão de portas abertas para o Brasil. Tudo isso,
mas não só isso: lá, crescer é uma decisão política.
Há uma impetuosidade na busca do
crescimento e do progresso. Por onde se anda, é visível que o país está
mudando a economia, combatendo a pobreza, transferindo a população do
campo para cidades planejadas, distribuindo a riqueza, usando
mão-de-obra própria e, ao mesmo tempo, importando inovação e tecnologia
de qualquer lugar do mundo. O resultado é surpreendente.
O que se vê, além da ousadia dos seus
dirigentes, é o senso de urgência do país, mas os bens coletivos –
estradas, ferrovias, portos, aeroportos, estações – são monumentos à
modernidade e projetados para o futuro.
Da “velha China” ainda resta o modelo
híbrido de socialismo político e capitalismo econômico que, à primeira
vista, acaba passando a ideia de que é uma virtude a combinação de
autoritarismo e prosperidade. Não é. O país ainda paga um alto preço
humano pela ausência de liberdade e pela dificuldade do regime em lidar
com críticas, com a imprensa livre e com a organização da sociedade
civil.
A economia chinesa está baseada no
centralismo político com planejamento estatal, por isso o protecionismo é
uma constante. Se a nossa indústria sofre, o setor agropecuário
brasileiro não enfrenta grandes barreiras, pois temos escala, tecnologia
e competitividade. Nossa agenda com os chineses pode e deve ser
agressiva. Eles precisam – e muito! – do alimento produzido no Brasil,
basta ver que mais de 30% das exportações do agro para lá são dirigidas.
Paz e competição formam o lema chinês.
Por isso é notória a ligação entre a diplomacia política e a diplomacia
comercial. Os países que mais fazem negócios com a China são os que
estão dispostos a viver a vida em mandarim. O que vimos em todos os
momentos, em nossa viagem, foi uma forte presença de empresas européias e
norte-americanas no país, embaixadas com centenas de funcionários,
mostrando que não importa a distância para ser “amigo íntimo” da China.
A imagem do Brasil – “o país do café” - e
seus produtos, especialmente os agrícolas, é boa, mas claramente
insuficiente. A pauta focada em poucos produtos e sem desdobramentos
internos na direção da criação de marcas e produtos sino-brasileiros
limita - e até esconde - nossa presença. A compreensão recíproca das
limitações é notória, ou seja, a China dá grande importância ao
desenvolvimento das relações com o Brasil, mas percebe-se que não há
relação estratégica sólida. Por enquanto, o “negócio da China” tem sido
bom apenas para os chineses – e para algumas poucas empresas.
É preciso que o Brasil fortaleça o
intercâmbio e a presença, para aumentar a confiança e promover a
cooperação. Aumentar os canais de comunicação e os mecanismos de
consulta, buscando sempre o diálogo direto, é a melhor forma de conhecer
os chineses. A CNA entendeu e aceitou este desafio. Até o final deste
ano, estaremos com o nosso escritório em Pequim, representando a
agropecuária, que reúne as melhores vantagens competitivas para
conquistar o maior cliente do mundo. A China é logo ali.
*KÁTIA ABREU, 50, senadora (PSD-TO) e
presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA),
escreve aos sábados, a cada 14 dias, para o Caderno Mercado do Jornal
Folha de S. Paulo
Leia o artigo completo em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/45087-a-china-e-logo-ali.shtml