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Apagão nos portos
Por Paulo Guedes
No exato momento em que
celebrávamos nossa supersafra de grãos, a China cancelou encomendas
bilionárias de nossas exportações de soja
No exato momento em que celebrávamos
nossa supersafra de grãos, a China cancelou encomendas bilionárias de
nossas exportações de soja. O apagão logístico no Porto de Santos, com
filas de caminhões que chegaram a atingir 25 quilômetros, é o outro lado
dessa moeda. O Brasil tem vantagem comparativa na produção agrícola,
mas nossas empresas perdem sua vantagem competitiva nos mercados globais
por falta de infra estrutura física e Logística.
O problema ocorre em várias dimensões. Os
governos militares investiram muito na Infraestrutura física, mas se
descuidaram dos gastos sociais. A democracia emergente puxou então os
gastos públicos para as áreas de saúde, educação, saneamento. Os
programas de transferência de renda em busca de inclusão social entraram
nos orçamentos públicos. Mas, apesar de esticarmos esse cobertor
orçamentário há quase três décadas, com os gastos públicos chegando a
40% do PIB, fomos agora parar no outro extremo: os investimentos em
Infraestrutura física praticamente desapareceram do orçamento federal.
Um programa de aceleração do crescimento,
disparando investimentos por meio de parcerias público-privadas, exige
mais do que financiamento farto e empreiteiros campeões. Despertar o
espírito animal dos empreendedores requer, acima de tudo, um
macroambiente favorável e regulamentações setoriais desenhadas com alta
inteligência de negócios. Menos favoritismos e conexões políticas e
melhores perspectivas de eficiência e lucratividade.
Observamos, a propósito, o choque entre
essa busca de eficiência e o antigo regime de concessões nos atuais
conflitos em tomo da Medida provisória 595, a MP dos Portos. Lideranças
políticas de expressão nacional, grupos de interesses privados e
sindicatos de trabalhadores portuários defendem um status quo que
derrubou a competitividade da economia brasileira e acelerou sua
desindustrializaçáo. Em vez de defender a modernização portuária e a
redução de custos nas antigas concessões, um ganha-ganha inteiramente
possível, aliam-se em torno de uma regulamentação inadequada, tentando
impor as mesmas práticas obsoletas e custos absurdos aos novos
investimentos. Impedem a modernização do setor. Invertendo a advertência
de Talleyrand a Napoleào, pior que um erro, é um crime contra o Brasil.
*Paulo Guedes é economista
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