Mostrar ao mundo a importância das
matas ciliares para garantir a qualidade da água. Esse é o objetivo da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que defende, em
parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e
da Agência Nacional de Águas (ANA), a proposta de criação da Área de
Preservação Permanente (APPs) mundial nas margens dos rios.
“Não queremos ditar regras a outros
países, mas temos autoridade para mostrar ao mundo a importância das
matas ciliares e propor um debate conceitual”, afirmou a presidente da
CNA, senadora Kátia Abreu. “Se esse conceito existe no Brasil e nós
acreditamos nele, ele tem que ser bom para todos os rios do mundo”,
afirmou. Ela participou, nesta terça-feira (19/06/2012), no Espaço
AgroBrasil, liderado pela CNA, na Rio+20, do lançamento da proposta de
criação da APP mundial. Ao falar da iniciativa, - apresentada, em março,
ao Conselho Mundial da Água (CMA) durante o Fórum Mundial da Água, na
França -, lembrou que essa é a contribuição que o Brasil, que tem 12% da
água doce do mundo e preserva 61% de seus biomas, tem a oferecer nesse
debate. “O mundo inteiro precisa saber que a preservação é importante”,
afirmou.
De acordo com a presidente da CNA, as
margens de muitos rios que cortam o País estão conservadas na forma de
APPs. “Mas muitos rios estão poluídos nas cidades”, afirmou. A senadora
Kátia Abreu lembrou que a maioria dos produtores rurais sabe da
importância da preservação de suas propriedades, conscientização que
será ampliada com o Projeto Biomas, desenvolvido pela CNA em parceria
com a Embrapa, com o objetivo de desenvolver pesquisas e tecnologias
para garantir a proteção e o uso sustentável de cada um dos biomas
brasileiros, a partir do uso de espécies de árvores nativas ou exóticas
nas propriedades rurais. “O produtor vai compreender que preservar e
adotar boas práticas ambientais valoriza o patrimônio dele e gera mais
renda, porque uma fazenda sustentável é fundamental para sobrevivência
econômica e financeira”, acrescentou.
A senadora Kátia Abreu lembrou que o País
transformou cobertura vegetal nativa em “alimentos, comida e ativos
econômicos e sociais da maior importância para o Brasil” e que as
atividades agropecuárias ocupam 27,7% do território nacional, enquanto
61% estão preservados na forma de florestas nativas. Citou que a taxa de
desmatamento caiu de 27 mil quilômetros quadrados para 6.200
quilômetros quadrados. “Nós vamos chegar muito antes da meta de 5.800
quilômetros quadrados, estabelecida para 2020, assumida em Copenhague,
na Dinamarca”, afirmou. Apesar desses dados, lembrou que “erros foram
cometidos, mas que todos estão dispostos a corrigir esses erros”. “O que
nós queremos, de verdade, é um ambientalismo por ciência e não por
paixão, por ativismo”, afirmou.
Na cerimônia de lançamento da proposta, o
presidente da ANA, Vicente Andreu, afirmou que um dos principais
problemas, no País, é a falta de saneamento básico, situação que
compromete a qualidade da água. “Muitas vezes as pessoas cobram
melhorias na qualidade da água e não sabem que isso deve ser cobrado
junto aos seus prefeitos e governadores”, afirmou. Outra falha apontada
por ele foi a falta de um plano de gestão de recursos hídricos em alguns
Estados. Neste contexto, defendeu o fortalecimento do modelo de gestão.
“Há uma carência por parte dos Estados de
um sistema de gestão efetiva. Por isso, precisamos trabalhar no sentido
de fortalecer a gestão regional para que os Estados estejam à altura de
seus desafios”, enfatizou. Destacou, ainda, que a proposta de criação
de um conceito universal deve considerar, além da segurança hídrica, a
segurança alimentar e ambiental, e que estes pontos sejam levados em
conta nos debates da Rio+20 e em outros fóruns internacionais de
discussão sobre o uso da água.
Para o presidente da Embrapa, Pedro
Arraes, a agricultura hoje pode ser parte da solução para o caminho da
sustentabilidade. Ele avaliou, também, que os outros países podem seguir
o modelo brasileiro de gestão e proteção das APPs, desde que cada um
faça suas adaptações. “Existem várias formas de implantação de técnicas
e políticas voltadas para a proteção ambiental e dos recursos hídricos e
cada um deve achar o modelo mais adequado”, frisou. Já o
vice-presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, defendeu a
criação de um fórum internacional para discutir a criação da APP global.
“Podemos avançar muito nesta questão, optando pelas melhores
tecnologias”, avaliou.
Depois dos pronunciamentos, a proposta
foi debatida com cientistas estrangeiros. Um dos participantes, o
professor Mark Mulligan, da King’s College London, em Londres
(Inglaterra), destacou a viabilidade de estender a proposta brasileira
para outros países, para proteger e assegurar a qualidade da água
utilizada para a atividade rural. “As APPs podem contribuir neste
processo, além de ouras paisagens importantes na questão ambiental, que
podemos utilizar nas propriedades rurais”, salientou o pesquisador.
A pesquisadora Jéssica Casaza, do
escritório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO) para América Latina e Caribe, falou sobre o avanço das
discussões sobre a proteção da vegetação próxima aos cursos d’água no
âmbito da FAO. “Demos passos importantes e podemos trabalhar em parceria
para colaborarmos ainda mais com a proteção dos recursos hídricos e a
produção sustentável”, comentou.
Para o pesquisador Donald Sawyer, do
Centro de Estudo Latino Americano da Universidade de Harvard, a proposta
brasileira pode ser adaptada para outros países, desde que “sejam
feitos ajustes”. Ele ressaltou, ainda, que a qualidade da água dependerá
do nível de proteção dos biomas brasileiros para assegurar o uso da
água para consumo humano, a agricultura e geração de energia
elétricBrasil tem autoridade para mostrar ao mundo a importância da
criação das APPs mundiais nas margens dos rios, diz presidente da CNA.