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Por Cesario Ramalho da Silva*
Finalmente a sabedoria começa a tomar o
lugar da ideologia na condução da política agrária brasileira. Com o
passar do tempo, o governo se deu conta de que a insistência num modelo
atrasado de simples distribuição de terras não deu certo, não sendo o
melhor, nem para assentados, o contribuinte, sequer para o País.
A falta de resultados dos assentamentos é
a prova cabal de que só doar a terra era um contrassenso e desperdício
de energia e recursos. E que levar adiante este formato acarretaria em
mais prejuízos e na perpetuação do subdesenvolvimento. Somando os
governos FHC, Lula e Dilma, o número de imóveis rurais desapropriados
chegou a aproximadamente 5,6 mil unidades nos últimos 18 anos. No mesmo
período, cerca de 1,1 milhão de famílias foram assentadas.
Porém, desassistidos em infraestrutura,
os assentamentos viraram favelas rurais, e não polos de produção. Pouco
se sabe sobre o que produzem, salvo raríssimas exceções, estas
conectadas ao mercado. Além disso, a ausência de tecnologia e também de
assistência técnica, bem como de vocação, da maioria das pessoas
assentadas [muitas oriundas das cidades, sem qualquer familiaridade com o
campo] culminaram, por exemplo, numa corrupção agrária.
Ao longo dos anos, um sem número de
reportagens mostrou a venda de lotes pelos “assentados”, como que se
àqueles imóveis rurais fossem propriedades privadas, e não entregues
pelo Estado por meio de desapropriações ou adquiridas com dinheiro
público. Este cenário desastroso escancarou a falência de uma reforma
agrária divorciada da realidade do papel do agro para o Brasil, e para o
mundo.
Até o final de 2011, balanço do próprio
Incra revela que aproximadamente 790 mil famílias, cerca de 43% do total
de assentados tinham abandonado os lotes. Além disso, 35,4%
transferiram de forma ilegal as terras.
Anacrônico, este modelo perdeu
significado no mundo atual. Primeiro porque há muito tempo não existem
mais terras improdutivas no Brasil. Se o produtor deixar de produzir,
ele automaticamente será penalizado pelo [injusto e equivocado, mas isso
é outra história] mecanismo de índices de produtividade.
O curioso é que rotineiramente são
divulgados estudos que destacam os ganhos de produtividade e a
modernização do agro brasileiro, O mais recente, do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA), mostra que o produtor rural vem
produzindo mais usando menos insumos. Aponta que Brasil e China são os
países que mais aumentaram a produtividade agropecuária entre 2001 e
2009. O crescimento do Brasil quanto à produtividade total dos fatores
foi de 4,04%, enquanto a taxa mundial foi de 1,84%, no período.
O segundo motivo para o fim desta reforma
agrária é a valorização do preço da terra, o que inviabiliza a compra
por parte do governo. E a terceira razão é que existem maneiras mais
inteligentes e eficientes do ponto de vista socioeconômico de tratar da
questão, como, por exemplo, avançar na integração cada vez maior dos
assentamentos e da agricultura familiar na cadeia produtiva do agro por
meio da diferenciação e agregação de valor, deixando no passado o
conceito de subsistência.
O desaparelhamento do Incra, que
desmembrou a política para os assentamentos entre diversos ministérios, a
fim de dar mais assertividade às ações foi um grande passo em direção
ao futuro.
E a implantação do programa Terra Forte,
que destinará R$ 300 milhões para promover a agroindustrialização e
estimular a comercialização da produção agrícola dos assentamentos é a
maior prova deste novo [e correto] pensamento para a política agrária
brasileira, que tem como lastro o cooperativismo capaz de gerar emprego,
renda e desenvolvimento.
Para a Rural, que sempre defendeu a
inserção dos assentamentos no agro, o amanhã passa impreterivelmente
pelo fortalecimento deste tipo de política de profissionalização da
reforma agrária. Com o inexorável aumento da demanda mundial pelos
produtos agrícolas, somente os melhores serão capazes de produzir com
volume, qualidade, preço e de acordo com os requisitos sociais e
ambientais exigidos pela sociedade moderna.
* Por Cesario Ramalho da Silva,
produtor rural e presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Artigo
originalmente publicado na edição de março da revista "Agroanalysis", da
FGV
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