Por Kátia Abreu
O crescimento do consumo das famílias chinesas abrirá oportunidades para o agronegócio brasileiro
Na semana em que a China escolhia, por
seus ritos próprios, as lideranças que irão comandá-la pelos próximos
dez anos, eu estava em Pequim, inaugurando o escritório de representação
da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Embora a
sucessão política chinesa nem de longe venha carregada da dramaticidade e
das incertezas que marcaram as eleições americanas, o meu sentimento é
de que a nova direção da China vai liderar transformações muito mais
amplas e profundas do que as que estavam, e estão, no horizonte da
política norte-americana.
Nos Estados Unidos e Europa, as margens
de manobra de seus governantes se tornaram muito estreitas. Pode-se até
dizer que seus governos estão limitados a ações puramente defensivas, e
não seria incorreto afirmar que americanos e europeus estão abandonando
uma visão de futuro. Tudo o que eles querem, neste momento, é
reencontrar a vida que tinham no passado e se perdeu com a crise.
O ritmo e a dimensão do crescimento
chinês nas últimas décadas são o fenômeno histórico mais impressionante
da atualidade, com suas reais consequências. Testemunhamos um radical
deslocamento dos eixos do poder por meios pacíficos. No pequeno tempo de
uma geração, a China tornou-se a segunda economia do planeta e a força
motriz da qual depende o equilíbrio econômico mundial.
Apesar de o regime político chinês ser
claramente autoritário, com severas limitações ao livre desenvolvimento
da sociedade civil, a substituição periódica dos quadros dirigentes faz
transparecer algum tipo de luta de ideias nos bastidores do Partido
Comunista. E os observadores mais próximos afirmam que o país tem se
movido em direção a uma espécie de liderança coletiva, dependendo cada
vez menos da vontade de um só homem, como ocorria com o regime nos
tempos de Mao. As políticas de governo estão mais institucionalizadas e
baseadas em consensos mais amplos.
As indicações mais confiáveis sugerem que
as elites dirigentes estão de acordo com algumas correções de rumo
impostas pela realidade. A contribuição das exportações para o
crescimento, que tem girado em torno de três pontos percentuais nos
últimos dez anos, não passará de um ponto percentual na próxima década. A
continuidade do crescimento terá que se basear na ampliação do mercado
interno que, por sua vez, dependerá do consumo das famílias e dos gastos
públicos nas áreas sociais.
A intensidade desse crescimento terá que
ser reduzida. Nos dez anos da gestão da atual liderança, o PIB chinês,
medido em dólar, simplesmente quadriplicou. Para 2020, a meta anunciada é
a duplicação do PIB de 2010, acompanhada também da duplicação da renda
por habitante.
Podemos antever que o consumo das
famílias vai crescer muito mais rapidamente do que a economia, o que
abrirá grandes oportunidades para as exportações do agronegócio
brasileiro. Também é visível que a China parece, agora, muito mais
disposta a projetar geopoliticamente o seu poderio econômico. O país
expressa de forma clara a ambição de se tornar a maior economia do
planeta e isso terá consequências para além da esfera meramente
econômica.
A Ásia – e os Estados Unidos – vão
sentir o peso dessa influência nova e alguns conflitos surgirão daí, com
repercussão também no comércio e na política de investimentos.
O Brasil, longe dos palcos desses conflitos e distante dessa agenda conturbada, pode construir relações econômicas muito mais profícuas com a China. Bastante mais diversificada e complexa do que as relações puramente comerciais que tem hoje com a nação chinesa.
O Brasil, longe dos palcos desses conflitos e distante dessa agenda conturbada, pode construir relações econômicas muito mais profícuas com a China. Bastante mais diversificada e complexa do que as relações puramente comerciais que tem hoje com a nação chinesa.
Para isto, será necessário que,
estrategicamente, sejamos capazes de responder com toda a agilidade a
uma indagação: O que queremos da nova China que está surgindo?
*Katia Abreu, 50, senadora (PSD/TO) é
presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, escreve
aos sábados, no caderno Mercado do Jornal Folha de S. Paulo.
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